sexta-feira, 11 de maio de 2012

Emenda em Relevo de Maio

terça-feira, 10 de abril de 2012

Implicâncias de aniversário


Num apelo publicitário ela me disse
“eu já tinha Trezentos anos  quando
O desembarque  esparramou teus
Pertences- tudo  vermelho sangue-
um radinho de pilha e um coração
perdulário , e , embora mangue, te
portavas  como ilha”


Disse e deu as costas. Como boa
futriqueira lança intriga contando
que eu arque com as respostas.
Um  espírito aborrecido de tanto
desperdiçar argumento lubrifica a
cervical com os lúcidos unguentos
e rompe a couraça


Lida a figura que não desaba, ela
Implica na primeira vitrine “menos
torta e mais bem vestida- a quem
mal examine- mas quem sabe eu
ache no ultraje de Segunda mão
uma ou outra fibra corrompida. “


Reteso-me e relaxo  conforme a
vontade estica e distrai qualquer
músculo delator, mas é o olhar,
sempre o olhar, que complica. É
indutor de barbárie e escracho. 
Reflexo da selvageria  ,  sei que
ela vai  rasgar o verbo quando
principia:

“Duas décadas de  desterro e o
mesmo bode expiatório tenta
apagar no berro o fogo de meus
altares. Teu silêncio é uma chama
líquida que vai lograr-te a forma
nítida em labaredas crepusculares.
Crês que, melhor contorno e mui
versada no jogo dos contrários,
elevam-te à classe  vertebrada?
Só Garantistes vaga de adorno
em meus ossários. Inda és uma
colônia de bactérias a empestear
estas calçadas. Mais um círculo
e acabo  com a pose de virtude
aviltada. Vais descascar embuste
feito cobra e saber-te outro cão
a correr atrás do rabo, o que tens
feito  todo o tempo desde que a
nódoa roxa dos teus passos me
macula. Pra descompasso teu 
meu ciclo se regula.  O futuro é
uma  mancha alvejada.”

E eu, balzaquiana sem fetiches
por cruzes, Somei  às trinta e três
quimeras mais uma presepada e
ri  o riso acre dos despertos, até
agora, que a chama lambe o
Silêncio parindo luzes, e posso
falar a língua que em nenhuma
das esferas  pode  jamais ser
deturpada :  

O passado é todo presente. Desato o laço
quando me aflige o prenúncio de algum
fracasso,  e o conteúdo do pacote exige
que eu seja livre. O exílio  foi voluntário,
e vim sozinha, procurar o que nunca tive,
calejada em desprezo e boicote. De ti não
esperei nada. Não tome por crueldade a
postura construída em esgares de ruptura
e em  ruminar de fome, como não julguei
particular ser acossada em teus círculos.
Nunca tive pretensão de criarmos vínculos
seculares, todavia, recusar ser holocausto
para teus fregueses é meu direito  vigente.
Microcosmo muitas vezes sitiado por coisas
menores, é como organismo que me ergo,
reorganizo e formas inúteis desencorporo.
Escolho salientar o contorno permeável e
permito a distinção. Sim, é soberbo meu  
coração sem  posses, e assim o elaboro,
contraponto ao acúmulo de vazio, tantas
vezes Teu vazio, ao meu entorno. Se cheguei
manchada da terra  e o que tinha na mochila,
nada disso me denigre. O provei em meu
sustento,  e nunca recebi um pila pelo qual
não tenha lutado feito um tigre.  Desde o
principio aguento destituíres meus  méritos
e  colheres para  ti o fruto de meu trabalho,
e nem intento que ofenda o meu estar de pé,
porém,  replico se me agrides teimando que
eu seja a gata modorrenta no borralho. Sinto
o gosto e os miasmas do suor, posso medir 
o quanto valho a silhueta e não abdico. Este
caso nunca teve solução,  eu não poderia ser
filha sem antes servir de pascigo,  e não verto
um pingo de remorso pelo cordão que mastigo.  
Deixa-me seguir com a vida que o ponteiro gira.
E nota o pronome. Talvez quando inquirida sobre
o rito final eu diga teu nome . Ou seja, desfruto
da parte que aspira e sonha e a outra, um dia, o
teu chão come.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Emenda para e-mail em 15 minutos

Atenção, amantíssimo amado
não se precipite em julgar
este comunicado. O meu
palpite- e verá quão bem
embasado-  é que seja lido
em rito de contrição.

Ora, o senhor tem um celular
e uma namorada cuja relação
vai de mal à ruína. Parece
que esse instrumento  tem
sido entrave à comunicação
a qual se destina.

E antes que uma mão irada
espatife  em alguma parede
o velho patife, venho alertá-lo
para que o proteja. E aviso,
para não perder logo a peleja,
descarte o argumento  de que

“essa porcaria  há muito tempo
não  segura bateria.” Não é boa
jogada denegri-lo mais ainda
à mulher por ele ignorada. Tenha
piedade do aparelho e com muita
humildade meta o bedelho


assumindo a responsabilidade
pela distração. NÃO. ” Distração”
aumenta o agravo. É desaforo
mesmo, admita. Seja Bravo, peça
desculpas. Sobretudo prometa
ficar atento aos tremeliques


do dispositivo. É por esses
tiques que lhe  garantirá
estar vivo até a próxima
chamada. Seja corajoso
bancando o escudo. Afinal
é sua a amada. Arrependido



e mudo,  a ouça esbravejar
sem fazer disso piada. Não
arrisque ante a fúria genuína.
Zele a propriedade senão
já sabe...ira, parede, ruina,
etc, etc, etc.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Chama e Topázio

É sobre o silêncio
a compostura, o prumo
e o enveredar pra vida
sem a regalia
de aferir o rumo.

E sobre a soltura
o lastro, o cimo a iguaria
preferida, o temperar
constante infindo,
que é Sabedoria.

Então eu me aproximo!
E o mais me escapa
entre o valor da paciência
e a humildade que encapa
na clarividência.

Algo sobre o orgulho,
o ermo, o menosprezo
alheio, e o limite; a poda,
o feio, a parte deformada
e o todo enfermo.

É sobre micro, macro
universos implodidos,
meditação, despojo
e os versos e reversos
escandidos.

É sobre saber, intuição,
o estômago e a fome;
sobre o digerir,
a gestação, o âmago
e o meu nome.

Sobretudo a compostura!
O zelo! A pálpebra
e a claridade, ser e estar,
a estrutura e o lar
o universal e o particular

Salienta o silêncio,
o som, a poesia, a fervura,
o caldeirão, a temperança ,
a ira, o ritual, a dádiva
e a bruxaria.

É sobre um tudo,
e um nada que resulta
da ruminância
e o regurgitar sonoro
de uma alma estulta.

É sobre o legado
o descompasso, a prece
a messe, o entremeio;
sublimação, e o passeio
deste a outro estado.


Sim, é a eternidade,
o bem, o belo, o bom,
o ambíguo e a palavra,
o amplo e o exíguo,
receptáculo e larva.

Einstein e relatividade!

É. Quando um anjo adeja
há vórtices, derramamento,
e entrevê-se a trama,
o fio, a fortuna, o rodízio

O anjo passa
E a graça lampeja
chama e topázio

  nos olhos da moça

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Ao cretino que roubou meu MP4


Perdão, mas o senhor chegou tarde.
Meses antes dispensasse até a faca
bastava fingido um sentimento
que me poria ainda mais fraca
e disporia de um celular melhor
mobília, apartamento...

Fato é que um irmão (seu de fato)
passou antes e só pude entregar
esse contemporâneo artefato
que o senhor chamou de fone.
Permita-me informar
que ele armazena dados
e atende por outro nome.


Este informe me fez lembrar
- e não tome por deboche-
meus trabalhos acadêmicos,
e por associação um pintor
chamado Bosch. Pode estar
fora da sua alçada
a sacada dessa rima,
mas de qualquer maneira
o senhor vai tomar no rabo
pois levou o aparelho
mas deixou o cabo. 

Esse fruto do meu suor
que na sua mão é desperdício
vai custar mais que a metáfora
Sobre inferno e orifício.
Garanto que o senhor paga
e pela ameaça de “furo”
o seu futuro é notícia
na forma rítmica da praga

Desejo sinceramente
que o senhor nunca se redima
dessa sua lida ordinária
e continue incompetente
assaltando estagiária.
A justiça poética
do honorário mixo por hora
é saber que não há nada
pro senhor levar embora. 

Ah, o senhor vai saber
o quanto o mundo é cruel
sendo sempre tripudiado
por uma moça bem vestida
a revirar na bolsa papel.
Miserável ludibriado
por essa horda feroz
de estudantes descolados
e freqüentadores de brechós.

Considere-se amaldiçoado
a ter amplamente divulgado
em jornal, cordel, facebook
que o senhor é um pateta.
E toda vez que o acontecido
ameace ser esquecido
que o senhor cutuque
novamente algum poeta.
 
Iriene Borges

quinta-feira, 10 de março de 2011

Marca e estilo

Pouco, rasgado na nuca. E pequena. Fácil e certo seccioná-la em pedaços. Bem miúdos. Estratégico reduzir a semelhança no desarranjo das partes. Começo entre as maçãs e as sombrancelhas, traço que nunca reparei mais incisivo.  Sempre me detiveram pálbebras encavadas numa profundidade insidiosa de onde salta a indiferença, brancura mortiça a acuar a íris.  Separo o nariz, esnobe no conjunto. "A desproporção transmutada em charme numa moldura chanel" penso ao medir o queixo, talho seguinte. E é nessa deixa que o cabelo sutura o gesto e propicia o lapso no qual ela escapa.  A muralha de MDF é intransponível quando a graça diminuta ruma à saída,  alheia ao meu olhar afiado. "Tem esse corte aquela que ocupa meu lugar" grito no oco que era antes meu interior. Cinco séculos caberão num segundo até que uma voz recolha meus cacos do balcão.


Iriene Borges

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Adiamento

Eu espero o amanhã.
Hoje não. Hoje há medo
espreitando-me a alma
Hoje o trivial, a rotina.
Amanhã o extraordinário,
a vida que vale a pena.

Hoje a carne flácida
caída no lençol sujo
não merece a glória
da experiência plena
desse amor ideal
ou desse poder criador
dando-me asas
para alcançar a essência
do que é matéria inerte
e forma aparente.

Hoje não. Hoje o choro
contido como um segredo.
Pois essa vida medíocre,
é simples e previsível
mas também mete medo,
que é o medo do nada
além de dia após dia
viver um dia após outro
esvaindo-me aos poucos
numa resignada agonia.

Amanhã, amanhã quem sabe
eu seja diferente.
Hoje eu sou a minúscula
e insignificante partícula
da grande massa
na qual posso sumir
sem precisar pensar.
Na qual posso me esgotar
até o esquecimento
da liberdade de sonhar,
da maldição de querer
o que não posso me dar.

Hoje é melhor morrer
sem precisar me matar.
Morrer assim, calada
sufocada no buraco
do meu próprio não-ser
ouvindo-me respirar.


Iriene Borges