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terça-feira, 10 de abril de 2012

Implicâncias de aniversário


Num apelo publicitário ela me disse
“eu já tinha Trezentos anos  quando
O desembarque  esparramou teus
Pertences- tudo  vermelho sangue-
um radinho de pilha e um coração
perdulário , e , embora mangue, te
portavas  como ilha”


Disse e deu as costas. Como boa
futriqueira lança intriga contando
que eu arque com as respostas.
Um  espírito aborrecido de tanto
desperdiçar argumento lubrifica a
cervical com os lúcidos unguentos
e rompe a couraça


Lida a figura que não desaba, ela
Implica na primeira vitrine “menos
torta e mais bem vestida- a quem
mal examine- mas quem sabe eu
ache no ultraje de Segunda mão
uma ou outra fibra corrompida. “


Reteso-me e relaxo  conforme a
vontade estica e distrai qualquer
músculo delator, mas é o olhar,
sempre o olhar, que complica. É
indutor de barbárie e escracho. 
Reflexo da selvageria  ,  sei que
ela vai  rasgar o verbo quando
principia:

“Duas décadas de  desterro e o
mesmo bode expiatório tenta
apagar no berro o fogo de meus
altares. Teu silêncio é uma chama
líquida que vai lograr-te a forma
nítida em labaredas crepusculares.
Crês que, melhor contorno e mui
versada no jogo dos contrários,
elevam-te à classe  vertebrada?
Só Garantistes vaga de adorno
em meus ossários. Inda és uma
colônia de bactérias a empestear
estas calçadas. Mais um círculo
e acabo  com a pose de virtude
aviltada. Vais descascar embuste
feito cobra e saber-te outro cão
a correr atrás do rabo, o que tens
feito  todo o tempo desde que a
nódoa roxa dos teus passos me
macula. Pra descompasso teu 
meu ciclo se regula.  O futuro é
uma  mancha alvejada.”

E eu, balzaquiana sem fetiches
por cruzes, Somei  às trinta e três
quimeras mais uma presepada e
ri  o riso acre dos despertos, até
agora, que a chama lambe o
Silêncio parindo luzes, e posso
falar a língua que em nenhuma
das esferas  pode  jamais ser
deturpada :  

O passado é todo presente. Desato o laço
quando me aflige o prenúncio de algum
fracasso,  e o conteúdo do pacote exige
que eu seja livre. O exílio  foi voluntário,
e vim sozinha, procurar o que nunca tive,
calejada em desprezo e boicote. De ti não
esperei nada. Não tome por crueldade a
postura construída em esgares de ruptura
e em  ruminar de fome, como não julguei
particular ser acossada em teus círculos.
Nunca tive pretensão de criarmos vínculos
seculares, todavia, recusar ser holocausto
para teus fregueses é meu direito  vigente.
Microcosmo muitas vezes sitiado por coisas
menores, é como organismo que me ergo,
reorganizo e formas inúteis desencorporo.
Escolho salientar o contorno permeável e
permito a distinção. Sim, é soberbo meu  
coração sem  posses, e assim o elaboro,
contraponto ao acúmulo de vazio, tantas
vezes Teu vazio, ao meu entorno. Se cheguei
manchada da terra  e o que tinha na mochila,
nada disso me denigre. O provei em meu
sustento,  e nunca recebi um pila pelo qual
não tenha lutado feito um tigre.  Desde o
principio aguento destituíres meus  méritos
e  colheres para  ti o fruto de meu trabalho,
e nem intento que ofenda o meu estar de pé,
porém,  replico se me agrides teimando que
eu seja a gata modorrenta no borralho. Sinto
o gosto e os miasmas do suor, posso medir 
o quanto valho a silhueta e não abdico. Este
caso nunca teve solução,  eu não poderia ser
filha sem antes servir de pascigo,  e não verto
um pingo de remorso pelo cordão que mastigo.  
Deixa-me seguir com a vida que o ponteiro gira.
E nota o pronome. Talvez quando inquirida sobre
o rito final eu diga teu nome . Ou seja, desfruto
da parte que aspira e sonha e a outra, um dia, o
teu chão come.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Emenda para e-mail em 15 minutos

Atenção, amantíssimo amado
não se precipite em julgar
este comunicado. O meu
palpite- e verá quão bem
embasado-  é que seja lido
em rito de contrição.

Ora, o senhor tem um celular
e uma namorada cuja relação
vai de mal à ruína. Parece
que esse instrumento  tem
sido entrave à comunicação
a qual se destina.

E antes que uma mão irada
espatife  em alguma parede
o velho patife, venho alertá-lo
para que o proteja. E aviso,
para não perder logo a peleja,
descarte o argumento  de que

“essa porcaria  há muito tempo
não  segura bateria.” Não é boa
jogada denegri-lo mais ainda
à mulher por ele ignorada. Tenha
piedade do aparelho e com muita
humildade meta o bedelho


assumindo a responsabilidade
pela distração. NÃO. ” Distração”
aumenta o agravo. É desaforo
mesmo, admita. Seja Bravo, peça
desculpas. Sobretudo prometa
ficar atento aos tremeliques


do dispositivo. É por esses
tiques que lhe  garantirá
estar vivo até a próxima
chamada. Seja corajoso
bancando o escudo. Afinal
é sua a amada. Arrependido



e mudo,  a ouça esbravejar
sem fazer disso piada. Não
arrisque ante a fúria genuína.
Zele a propriedade senão
já sabe...ira, parede, ruina,
etc, etc, etc.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Chama e Topázio

É sobre o silêncio
a compostura, o prumo
e o enveredar pra vida
sem a regalia
de aferir o rumo.

E sobre a soltura
o lastro, o cimo a iguaria
preferida, o temperar
constante infindo,
que é Sabedoria.

Então eu me aproximo!
E o mais me escapa
entre o valor da paciência
e a humildade que encapa
na clarividência.

Algo sobre o orgulho,
o ermo, o menosprezo
alheio, e o limite; a poda,
o feio, a parte deformada
e o todo enfermo.

É sobre micro, macro
universos implodidos,
meditação, despojo
e os versos e reversos
escandidos.

É sobre saber, intuição,
o estômago e a fome;
sobre o digerir,
a gestação, o âmago
e o meu nome.

Sobretudo a compostura!
O zelo! A pálpebra
e a claridade, ser e estar,
a estrutura e o lar
o universal e o particular

Salienta o silêncio,
o som, a poesia, a fervura,
o caldeirão, a temperança ,
a ira, o ritual, a dádiva
e a bruxaria.

É sobre um tudo,
e um nada que resulta
da ruminância
e o regurgitar sonoro
de uma alma estulta.

É sobre o legado
o descompasso, a prece
a messe, o entremeio;
sublimação, e o passeio
deste a outro estado.


Sim, é a eternidade,
o bem, o belo, o bom,
o ambíguo e a palavra,
o amplo e o exíguo,
receptáculo e larva.

Einstein e relatividade!

É. Quando um anjo adeja
há vórtices, derramamento,
e entrevê-se a trama,
o fio, a fortuna, o rodízio

O anjo passa
E a graça lampeja
chama e topázio

  nos olhos da moça

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Ao cretino que roubou meu MP4


Perdão, mas o senhor chegou tarde.
Meses antes dispensasse até a faca
bastava fingido um sentimento
que me poria ainda mais fraca
e disporia de um celular melhor
mobília, apartamento...

Fato é que um irmão (seu de fato)
passou antes e só pude entregar
esse contemporâneo artefato
que o senhor chamou de fone.
Permita-me informar
que ele armazena dados
e atende por outro nome.


Este informe me fez lembrar
- e não tome por deboche-
meus trabalhos acadêmicos,
e por associação um pintor
chamado Bosch. Pode estar
fora da sua alçada
a sacada dessa rima,
mas de qualquer maneira
o senhor vai tomar no rabo
pois levou o aparelho
mas deixou o cabo. 

Esse fruto do meu suor
que na sua mão é desperdício
vai custar mais que a metáfora
Sobre inferno e orifício.
Garanto que o senhor paga
e pela ameaça de “furo”
o seu futuro é notícia
na forma rítmica da praga

Desejo sinceramente
que o senhor nunca se redima
dessa sua lida ordinária
e continue incompetente
assaltando estagiária.
A justiça poética
do honorário mixo por hora
é saber que não há nada
pro senhor levar embora. 

Ah, o senhor vai saber
o quanto o mundo é cruel
sendo sempre tripudiado
por uma moça bem vestida
a revirar na bolsa papel.
Miserável ludibriado
por essa horda feroz
de estudantes descolados
e freqüentadores de brechós.

Considere-se amaldiçoado
a ter amplamente divulgado
em jornal, cordel, facebook
que o senhor é um pateta.
E toda vez que o acontecido
ameace ser esquecido
que o senhor cutuque
novamente algum poeta.
 
Iriene Borges

quinta-feira, 10 de março de 2011

Marca e estilo

Pouco, rasgado na nuca. E pequena. Fácil e certo seccioná-la em pedaços. Bem miúdos. Estratégico reduzir a semelhança no desarranjo das partes. Começo entre as maçãs e as sombrancelhas, traço que nunca reparei mais incisivo.  Sempre me detiveram pálbebras encavadas numa profundidade insidiosa de onde salta a indiferença, brancura mortiça a acuar a íris.  Separo o nariz, esnobe no conjunto. "A desproporção transmutada em charme numa moldura chanel" penso ao medir o queixo, talho seguinte. E é nessa deixa que o cabelo sutura o gesto e propicia o lapso no qual ela escapa.  A muralha de MDF é intransponível quando a graça diminuta ruma à saída,  alheia ao meu olhar afiado. "Tem esse corte aquela que ocupa meu lugar" grito no oco que era antes meu interior. Cinco séculos caberão num segundo até que uma voz recolha meus cacos do balcão.


Iriene Borges

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Instantâneo




Há quem diga cisne
há quem diga borboleta
e há ainda quem aponte
a exuberância
prestes à implosão
e ávida por existir- ainda-
que há quem diga cinza
e há quem diga alma

Talvez eu conte da metáfora
que veste bem, e fascine
a carapuça delicada
do sujeito à gente errada
se aferir  privilégio maior
do que o engano
e a metamorfose  

Talvez desponte o fio
do escuro que seda
e eu não corra
só me enrole e durma
significando despertar
sem corpo mole ...amanhã.

Inconsistente
o meu papel medíocre
pede grafite macio
e adia tudo

Já perdi a hora e o prumo
em mensagens cifradas
sem demandar resposta
a minha melhor proposta
veio da última visagem
“escrever para a posteridade”

Mas ainda estudo.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

Miguel é uma mensagem



Será fim de trégua
maroto Querubim
aviltares outra vez
o teu Trono na poesia
suscetível ao incêndio
É implícita a cortesia
na aquiescência
às Dominações do silêncio

Uma mulher talvez despreze
talvez estraçalhe à unha
mas a minha alcunha
é uma Potência
que não se acomoda
em definições de Virtude
ou vício

Meu verso é um Principado
cuja soberania te concedo
Se não tens amor
deixa-o vago e branco
resguardado na saudade
que não se sabe

Aceita o arranjo que me cala
o que me custa
mas a vida não é justa
nem tem bula ou atenuante
Só poupa-me à ira
que macula este semblante
e apaga a lembrança
de ser teu Anjo

Iriene Borges

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mantra

Não adianta chacoalhar pelo pescoço
Idéia, resiliência, urdidura

domingo, 26 de dezembro de 2010

A última gota

sumo de sonho precípite

transborda das corolas do dia



e sorvo



antes que desabrochem

chama e desamparo

em caules dolentes



Me espreitam corvo e morcego

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

À inconsistência dos atritos

Calo

e dói mais do que a carne viva




Iriene Borges

sábado, 12 de junho de 2010

Conforme a música

O verso calco à beleza



Te possuo enquanto a fascinação ascende ânimo

pelos cantos da tua boca





Artífice de linhas imaginárias

curvo-me

à vibração efêmera

de ser teu entretenimento



Volátil como o que provoca

o belo é reinvenção cotidiana

que deponho, a teu gosto,

abstração da minha inteireza.





Iriene Borges

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pichação

O que entra pela janela torna o vidro palatável

e retratos vivificam paredes e monitores



Pra não me entregar isso não pode fazer sentido


Silêncio a tiquetaquear e nada dorme realmente

se me aprisiona o fascínio refreável pela certeza



Para não me estragar não poderia ter sentido



E já é tarde para amar segundas-feiras em cores

que apascentam o futuro  quando estou presente



Para não me extraviar só posso ir no teu sentido



escrevendo Saudade em lugar visível

sem que alguém perceba ou deduza o nome





Iriene Borges

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Beatriz

A paixão

Só é bela adormecida

em páginas encadernadas

na estante ou na expressão

pictórica do inferno

doravante (sim meu bem,

teu codinome é Beatriz).



E desinventa almas delicadas:

umedece em febre e muco

até despregar um trapo

desapegado

do “final feliz”.



Alma só tem serventia

até a transformação

do sapo, que depois

magia é esconjuro

entre coxas,  sacralizado

em meneio de quadris.



Mas que Poeta

em rasgos de paixão

não escreve a ficção do amor

em cada cicatriz?


Iriene Borges

domingo, 30 de maio de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Umbra

Não me ocupes

Vago em luminescências

e rotaciono aluada



Para manter a linha

da mediatriz até o complexo

da cerviz até o sexo

fui sitiada

pelo remorso de existir



No entanto, irrompes a rir

e eu singular e asceta

projeto uma sombra completa

que me intercepta o senso

bem aqui na minha rua

quando alcanço a calçada

sob o primeiro poste

à esquerda



A persigo, e não me desgoste,

não por isso, que ela é tudo

tem o talhe do teu desejo

Pisa o asfalto como meu hálito

roça teus lábios sem beijar

Tem um contorno movediço

que me traga no molejo

e danço

entre o pudor e o vestido

feito pipa no ar.



Nos amamos em teu nome

em cada canto da vila

e inventamos a saudade

de conluio com cada esquina

só assim ela me arrasta pra casa

em êxtase

e some no clarão da porta

que amanhã tem volta

e reprise.



Não me ocupes

para a distância do sorriso

se vago em luminescências

rotaciono aluada



e só me sei sitiada





Iriene Borges

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Eros e Tânatos



Náufrago em mim mesmo, a procuro
Entre suas pernas o afogamento
Esvazio aos arremessos
que a vida não se desprega num só rasgo,
não se desentranha na descarga
de um único orgasmo
Há sempre um último deleite a ser tragado


E ela sabe
Me recebe
Me insere na argúcia estrutural da prosa,
na poesia cadenciada dos encaixes
Adere dos ímpetos até os ossos,
seus feixes tecidos de névoa e mucosa
E eu apenas falo, falo e falo
até desaparecer


É quando ela se constringe
fecha ao meu redor e secreta
o silencio absoluto.
Mas finge
Sei de cor o repertório dos ardis
que enleia o embuste feminino
quando goza menos do que quis


Dissimulada desabrocha devagar, 
desarvora aflitivos perfumes,
entreabre o corolário dos possíveis
e impregnado dos ungüentos do ciúme
sou assaltado novamente
por tudo que ansiava abdicar
Resvalo para fora


Ela não chora
Ao afago oferta o calo, nunca o âmago
Cumpre ocultar o desamparo, me visto,
guardo o estilete no bolso
Retrátil acendo um cigarro, degusto,
e ainda tenho o pulso de ostentar a marra
de quem só tirou um sarro


Sem palavra avanço
ela é como as outras
quer tudo, e não me alcanço.




Iriene Borges

domingo, 18 de abril de 2010



Foto: Alfredo Goya

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quanto os Fantasmas confabulam



A cama sussurra que o conforto destoa

Quanto os fantasmas confabulam em duas horas de repouso?

Ouso os ossos no tapete
nas arestas de um frio
que recrudesce o outro
-o de fora mais tinge e menos magoa

Grudo a orelha gótica no porcelanato
Modulo o silêncio
no sintético obtido em fogo alto
E sedimento adormeço escuro basalto

Acordar?

É uma arte obtusa....
tilintar de cílios pétreos
trucidar de vista
depreciar águas-marinhas
em veios ametista


Iriene Borges

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vou embora agora
enquanto partir é opção
Quando pressinto o fim
já digo adeus a toda hora
e não suporto essa consumição.

Melhor o cessar repentino
como se eu não soubesse a que vim
nem me importasse meu destino.

Iriene Borges