quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
domingo, 15 de novembro de 2009
(Eu) Gênia Ariana
A fumaça cinzela meu vulto no vento
suspensa
trespassa-me a paralisia do sofrimento
para o cativo
serei augúrio da degradação
para o algoz da gloria
Desde que o primeiro homem
burlou a inconsciência
um rubor de chama e sangue
mancha minha memória.
Subverte-se a hierarquia
da criação
No encalço da perfeição
a perfídia devasta a terra
O espírito é banido da matéria
e os gênios buscam exílio
na desolação sidérea
Expatriada como a judia
enjeitada como cigana
choro
eu
Ariana
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=3891757&tid=5378437564559297721&kw=primeira+guerra+mundial&na=1&nst=1
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Gavetas
Flerte III
Há algum tempo
que percorro em passos tímidos
a tua superfície
******
Frestas
Chuva vermelha
Não curto pessoas
O oposto do homem
magra e negra
anel no dedo mindinho
reflete meu estado de espírito
relógio grande, redondo, preto e metálico
cortina de sangue
Turbulência, dança frenética da vida
Um abraço como chocolate
Gato preto
bonecas fantasmagóricas
calça xadrez
Bad Pain
Amor Solitário
De bruços, dormindo sobre o túmulo do sonho
Botina bonita
chocolate amargo
Sou minha própria referência
Lábios cor de vinho
lábios sabor vinho
piercing
Rude e ingênua observação
Boa Dor
Anel no polegar
Hábito= tédio
melhor de trás pra frente
Sobreposição
música
rítmo
pés bonitos
cortina lilás
Eu, Feliz de não ser você
Odeio como me sinto
sobre pessoas solitárias
armários amarelos
Pratico
*************
Caniço Pensante
Eu quero esse visual, sombrio mas elegante
sem discernir o nada
do pouco que tenho
Me agradaria dizer
algo que tivesse real significado
Divido espaço com criaturas estranhas
Quero dormir
pra não ruminar
na gritante incapacidade de agir
*********
Flash
Um quase nada de remorso
testemunha teu anseio
pela rosa quase nuvem
sem contar que a colheita
desintegra o sonho
como açúcar na água
(sem o doce)
Desfeita ilusão
na fluidez da consciência
**********
A bem da verdade
não conheço a fome
só a acidez que me digere
desde as entranhas
até as bordas do macrocosmo
(Sei do desejo com tanto nome
na tepidez da carne
que gere o prato
ou mais um orgasmo)
************
Reciclado meu papel
esvoaçam dobraduras de silêncio
O não dito tem aderência e nervura
da nudez constrangedora
************
Na contemplação
embainho
a mágoa mais incisiva
***********
Descensor
Esparramo
Mais epiderme
Retém-me o atrito
A borda pode estar no próximo passo.
************
Há algum tempo
que percorro em passos tímidos
a tua superfície
******
Frestas
Chuva vermelha
Não curto pessoas
O oposto do homem
magra e negra
anel no dedo mindinho
reflete meu estado de espírito
relógio grande, redondo, preto e metálico
cortina de sangue
Turbulência, dança frenética da vida
Um abraço como chocolate
Gato preto
bonecas fantasmagóricas
calça xadrez
Bad Pain
Amor Solitário
De bruços, dormindo sobre o túmulo do sonho
Botina bonita
chocolate amargo
Sou minha própria referência
Lábios cor de vinho
lábios sabor vinho
piercing
Rude e ingênua observação
Boa Dor
Anel no polegar
Hábito= tédio
melhor de trás pra frente
Sobreposição
música
rítmo
pés bonitos
cortina lilás
Eu, Feliz de não ser você
Odeio como me sinto
sobre pessoas solitárias
armários amarelos
Pratico
*************
Caniço Pensante
Eu quero esse visual, sombrio mas elegante
sem discernir o nada
do pouco que tenho
Me agradaria dizer
algo que tivesse real significado
Divido espaço com criaturas estranhas
Quero dormir
pra não ruminar
na gritante incapacidade de agir
*********
Flash
Um quase nada de remorso
testemunha teu anseio
pela rosa quase nuvem
sem contar que a colheita
desintegra o sonho
como açúcar na água
(sem o doce)
Desfeita ilusão
na fluidez da consciência
**********
A bem da verdade
não conheço a fome
só a acidez que me digere
desde as entranhas
até as bordas do macrocosmo
(Sei do desejo com tanto nome
na tepidez da carne
que gere o prato
ou mais um orgasmo)
************
Reciclado meu papel
esvoaçam dobraduras de silêncio
O não dito tem aderência e nervura
da nudez constrangedora
************
Na contemplação
embainho
a mágoa mais incisiva
***********
Descensor
Esparramo
Mais epiderme
Retém-me o atrito
A borda pode estar no próximo passo.
************
prognóstico
Não leio o futuro
um verso
só
desabrocha no rochedo.
Som
entre meus lábios
e a suspeição de arremedo
Iriene Borges
um verso
só
desabrocha no rochedo.
Som
entre meus lábios
e a suspeição de arremedo
Iriene Borges
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Tarja Preta
Tua voz tange minha retina
indeferidos brados
ribombam no céu da boca
Sismo
catarses violetas
entredentes dissipo o eco
em beijos acres
A cidade alucina
Entre o crepúsculo brocado
E a sombra seda fosca
Cismo
tinjo as tarjas pretas
verde, champanhe, prosecco
delírio tinto em cristal ocre
O raso é sem fundo
quando desfraldas tuas velas
entre o inefável e o hostil
pelo vidro vejo o mundo
que desbota e amarela
sob teu olhar incivil.
Rosa Cardoso e Iriene Borges
indeferidos brados
ribombam no céu da boca
Sismo
catarses violetas
entredentes dissipo o eco
em beijos acres
A cidade alucina
Entre o crepúsculo brocado
E a sombra seda fosca
Cismo
tinjo as tarjas pretas
verde, champanhe, prosecco
delírio tinto em cristal ocre
O raso é sem fundo
quando desfraldas tuas velas
entre o inefável e o hostil
pelo vidro vejo o mundo
que desbota e amarela
sob teu olhar incivil.
Rosa Cardoso e Iriene Borges
domingo, 13 de setembro de 2009
(...)
Abro aspas para o silêncio que nasceu de nós
Aninhou-se em minha boca
semente de sonho no ventre seco da inércia
A verdade é so minha
embora os espelhos exijam retratação
e os estilhaços me singrem
expondo meu espólio
de cicatrizes invisíveis
Na lista de meus crimes deve constar
que matei a saudade
afogada
numa poça de ódio.
Iriene Borges
Aninhou-se em minha boca
semente de sonho no ventre seco da inércia
A verdade é so minha
embora os espelhos exijam retratação
e os estilhaços me singrem
expondo meu espólio
de cicatrizes invisíveis
Na lista de meus crimes deve constar
que matei a saudade
afogada
numa poça de ódio.
Iriene Borges
terça-feira, 8 de setembro de 2009
domingo, 30 de agosto de 2009
Delírio da tarde
Há sol lá fora e não quero ir
A saia me estrangula pela cintura
e a bota revelará o passo lerdo
pelo tornozelo esquerdo
Há um engasgo me esperando
Girassol, Náusea, Asfixia
Tenho sono e fastio dos modos humanos
e nenhum interesse na arte do improviso
Há serpentes e odaliscas ondulando sob o sol
Nunca soube distinguir os guizos
No sofá sob a colcha azul
sou a concha que verte o mar
nas almofadas
Não quero ir
Um palmo de luz pela janela já embriaga
e estou certa de que esfolarei a retina
nas asas finas de alguma fada amarela.
Iriene Borges
A saia me estrangula pela cintura
e a bota revelará o passo lerdo
pelo tornozelo esquerdo
Há um engasgo me esperando
Girassol, Náusea, Asfixia
Tenho sono e fastio dos modos humanos
e nenhum interesse na arte do improviso
Há serpentes e odaliscas ondulando sob o sol
Nunca soube distinguir os guizos
No sofá sob a colcha azul
sou a concha que verte o mar
nas almofadas
Não quero ir
Um palmo de luz pela janela já embriaga
e estou certa de que esfolarei a retina
nas asas finas de alguma fada amarela.
Iriene Borges
sábado, 22 de agosto de 2009
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Confissão
Hoje matei um irmão
Meu corpo travou-se gélido
Meu rosto tornou-se pálido
E dilacerado meu coração
Foi num momento de lucidez
Ele dava-me as costas
E esperanças decompostas
O afogaram na morbidez
Então desocupei seu lugar
O limpou um pranto breve
E senti minha alma tão leve
Que não evitei gostar
Assim, porque eu o amava
E ele nunca me amaria
E pela sua enorme covardia
Ele há muito me matava
Iriene Borges
Meu corpo travou-se gélido
Meu rosto tornou-se pálido
E dilacerado meu coração
Foi num momento de lucidez
Ele dava-me as costas
E esperanças decompostas
O afogaram na morbidez
Então desocupei seu lugar
O limpou um pranto breve
E senti minha alma tão leve
Que não evitei gostar
Assim, porque eu o amava
E ele nunca me amaria
E pela sua enorme covardia
Ele há muito me matava
Iriene Borges
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
domingo, 19 de julho de 2009
Desintegração
Desintegração é a ordem
Posto-me nua à janela
sem causar alvoroço
Inexistência
emparedada no cimento
sem a propulsão da dor
A ficção das asas
abandonada na cadeira
entre outros destroços
E o vazio estanque
prestes a vazar
em algum clamor
Penso, esquecida
incrustrada na moldura
de uma vida nula
Sem esboçar vigor
ou traço de candura
que sustente um verso
Iriene Borges
Posto-me nua à janela
sem causar alvoroço
Inexistência
emparedada no cimento
sem a propulsão da dor
A ficção das asas
abandonada na cadeira
entre outros destroços
E o vazio estanque
prestes a vazar
em algum clamor
Penso, esquecida
incrustrada na moldura
de uma vida nula
Sem esboçar vigor
ou traço de candura
que sustente um verso
Iriene Borges
quarta-feira, 15 de julho de 2009
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Olhar para dentro
Eu também grito.
Dentro há um poço
escuro, aonde vejo
a minha face
e a perco no infinito.
Eu também blasfemo
de modo grosso
o feitiço malfazejo
sob cujo passe gemo.
Eu também imploro
a piedade alheia.
Ou de deus, em Cristo.
Sem esperar piedade.
Há fé.Basta. Eu oro.
Eu também perco o decoro.
A vida fede, é suja e feia
e a palavra exprime isto
em sua total atrocidade.
Eu sei. E faço. É desaforo
Eu também prometo
voltar atrás. Desejo
suscitado pela vergonha
dessa pobre reação
de explosão e ímpeto.
Mas há o meu rosto
esfacelado, e não vejo
algo que o recomponha
em totalidade e perfeição
sem pôr nele meu oposto.
E o oposto é a vida
Que fede, é suja e feia
Iriene Borges
Dentro há um poço
escuro, aonde vejo
a minha face
e a perco no infinito.
Eu também blasfemo
de modo grosso
o feitiço malfazejo
sob cujo passe gemo.
Eu também imploro
a piedade alheia.
Ou de deus, em Cristo.
Sem esperar piedade.
Há fé.Basta. Eu oro.
Eu também perco o decoro.
A vida fede, é suja e feia
e a palavra exprime isto
em sua total atrocidade.
Eu sei. E faço. É desaforo
Eu também prometo
voltar atrás. Desejo
suscitado pela vergonha
dessa pobre reação
de explosão e ímpeto.
Mas há o meu rosto
esfacelado, e não vejo
algo que o recomponha
em totalidade e perfeição
sem pôr nele meu oposto.
E o oposto é a vida
Que fede, é suja e feia
Iriene Borges
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Súplica ao meu assassino
Cala-me suavemente.
Cessa o estertor violento
de minha verve lírica
em vísceras alheias,
vertendo, de tua boca lacerada,
o sumo que alimenta
o meu sentir intensamente.
Deita-me languidamente,
entre versos brancos
e a tessitura vaporosa
de silêncios enternecidos.
Acomoda em meus contornos
tua alma sinuosa
Deixa-me repousar
às margens da vertigem.
E antes que se dissipe
o êxtase de minhas veias,
e eu pereça lentamente
no torpor da tua ausência
mata-me
delicadamente.
Iriene Borges
Cessa o estertor violento
de minha verve lírica
em vísceras alheias,
vertendo, de tua boca lacerada,
o sumo que alimenta
o meu sentir intensamente.
Deita-me languidamente,
entre versos brancos
e a tessitura vaporosa
de silêncios enternecidos.
Acomoda em meus contornos
tua alma sinuosa
Deixa-me repousar
às margens da vertigem.
E antes que se dissipe
o êxtase de minhas veias,
e eu pereça lentamente
no torpor da tua ausência
mata-me
delicadamente.
Iriene Borges
domingo, 10 de maio de 2009
Acode-me a náusea
Abrupta transmutação
e quase me desperdiço
bálsamo sobre tua chaga
Nenhuma redenção emerge
do ímpeto que me traga
Rememoro teus pecados
num rosário de espinhos
e perfumes
Mas a lucidez agride
cada sonho que elaboro
Acode-me a náusea
Transeunte permeável
aos pruridos da miséria
cuja humanidade desvanece
num lapso
de profunda mortificação
eu passo
Iriene Borges
e quase me desperdiço
bálsamo sobre tua chaga
Nenhuma redenção emerge
do ímpeto que me traga
Rememoro teus pecados
num rosário de espinhos
e perfumes
Mas a lucidez agride
cada sonho que elaboro
Acode-me a náusea
Transeunte permeável
aos pruridos da miséria
cuja humanidade desvanece
num lapso
de profunda mortificação
eu passo
Iriene Borges
terça-feira, 21 de abril de 2009
Fênix
"Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento"
Vinicius de Moraes
Escureceu
E ainda assim procuro
a sombra das alamedas
Entre o ocaso e o soluço
murmuram todos os poetas
mas só ouço
o reverberar destes versos
"pensar nele é morrer de desventura
não pensar é matar meu pensamento"
Tenho unhas negras
de entalhar sonhos no carvão
Reminiscência e custo
de saber renascer da cinza
E ainda assim te emprestaria
meus olhos de fixar vertigens
e partilharia o mistério
que tranforma
uma sequência de palavras
na conjuração das asas
para transpor abismos
Iriene Borges
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento"
Vinicius de Moraes
Escureceu
E ainda assim procuro
a sombra das alamedas
Entre o ocaso e o soluço
murmuram todos os poetas
mas só ouço
o reverberar destes versos
"pensar nele é morrer de desventura
não pensar é matar meu pensamento"
Tenho unhas negras
de entalhar sonhos no carvão
Reminiscência e custo
de saber renascer da cinza
E ainda assim te emprestaria
meus olhos de fixar vertigens
e partilharia o mistério
que tranforma
uma sequência de palavras
na conjuração das asas
para transpor abismos
Iriene Borges
domingo, 22 de março de 2009
Luz Vúnerável
Eu procuro palavras cheias de esplendor.
Que pareçam simples, mas grandiosas
e retratem em medidas cuidadosas
minha ambição e a miséria interior.
E que transmitam meu amor imperfeito
à arte e à beleza inesgotável da vida.
Através delas minha sensibilidade vertida
em cada coração como se no meu peito.
E digam que vejo tão longe e profundo.
E sinto tanto e tudo tão perto, e voraz,
desejo tudo que vejo e tudo temo demais.
No intento de acertar eu me confundo.
Assim, ouso tentar adestrar o intelecto
para esculpir uma imagem triunfante
sobre esta alma ingênua e petulante
Encobrindo a fragilidade que detecto.
Enquanto insuflo verbos de energia
aturde-me o gosto dúbio da verdade
e dilui-se tênue visão da liberdade
em minha própria alma escorregadia
Iriene Borges
Que pareçam simples, mas grandiosas
e retratem em medidas cuidadosas
minha ambição e a miséria interior.
E que transmitam meu amor imperfeito
à arte e à beleza inesgotável da vida.
Através delas minha sensibilidade vertida
em cada coração como se no meu peito.
E digam que vejo tão longe e profundo.
E sinto tanto e tudo tão perto, e voraz,
desejo tudo que vejo e tudo temo demais.
No intento de acertar eu me confundo.
Assim, ouso tentar adestrar o intelecto
para esculpir uma imagem triunfante
sobre esta alma ingênua e petulante
Encobrindo a fragilidade que detecto.
Enquanto insuflo verbos de energia
aturde-me o gosto dúbio da verdade
e dilui-se tênue visão da liberdade
em minha própria alma escorregadia
Iriene Borges
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Trilha
Na ponta da esferográfica
sangro azul
e singro realidades abissais
A amplitude é claustrofóbica
se não passa pelo funil
do saber empírico
Burilo lembretes em letras graúdas
Migalhas de agora
que não permitem voltar atrás
mas de longe estrelas miúdas
alumiando-me na noite afora
do meu labirinto onírico
Iriene Borges
sangro azul
e singro realidades abissais
A amplitude é claustrofóbica
se não passa pelo funil
do saber empírico
Burilo lembretes em letras graúdas
Migalhas de agora
que não permitem voltar atrás
mas de longe estrelas miúdas
alumiando-me na noite afora
do meu labirinto onírico
Iriene Borges
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Práticas antigas
Eu dançarei sobre teu túmulo
Paganismo inerte
Música que aprendi de ouvido
no pulsar envenenado
que me perverte
mas sustenta o fôlego
Desfarei no giro dos quadris
A mandinga e a modorra
que lançaste-me sobre a libido
Terei teu jazigo revolvido
e até o verme cuidarei que morra
sob coreografias febris
Ocorre que as hordas infernais
são palavras esmurrando minha porta
e as logro no encanto das cantigas
E entre ritos novos e práticas antigas
vislumbro-te carne exposta
nas manchetes dos jornais
Breve dançarei sobre teu túmulo
Iriene Borges
Paganismo inerte
Música que aprendi de ouvido
no pulsar envenenado
que me perverte
mas sustenta o fôlego
Desfarei no giro dos quadris
A mandinga e a modorra
que lançaste-me sobre a libido
Terei teu jazigo revolvido
e até o verme cuidarei que morra
sob coreografias febris
Ocorre que as hordas infernais
são palavras esmurrando minha porta
e as logro no encanto das cantigas
E entre ritos novos e práticas antigas
vislumbro-te carne exposta
nas manchetes dos jornais
Breve dançarei sobre teu túmulo
Iriene Borges
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Alquimia
Adorno-me com falsas pepitas
que brilham no breu
Ardil que ante os espelhos
desvia-me de ver
Ouro de tolo sou eu
que brilham no breu
Ardil que ante os espelhos
desvia-me de ver
Ouro de tolo sou eu
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Entardecer
Sobre a pele teu olhar arde
Claridade quente e serena
de sol no princípio da tarde
Abordagem obscena
Exploração covarde
da minha pele morena
Pele sequiosa
que arde
e cora
de uma timidez pequena
Iriene Borges
Claridade quente e serena
de sol no princípio da tarde
Abordagem obscena
Exploração covarde
da minha pele morena
Pele sequiosa
que arde
e cora
de uma timidez pequena
Iriene Borges
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Caligrafia da entrega
O olhar
se entrega ao objeto
Nele se exaure e extasia
como se fosse fantasia
o querer precipitado
E súbito se nega
olhando novamente
indiferente
raso
conciso
e calculado
O desejo existe
febril e impetuoso
ávido por prazer
na brutalidade da carne
Mas em mim
se dilui e transfigura
na linguagem crua
na superfície táctil
da palavra nua
Iriene Borges
se entrega ao objeto
Nele se exaure e extasia
como se fosse fantasia
o querer precipitado
E súbito se nega
olhando novamente
indiferente
raso
conciso
e calculado
O desejo existe
febril e impetuoso
ávido por prazer
na brutalidade da carne
Mas em mim
se dilui e transfigura
na linguagem crua
na superfície táctil
da palavra nua
Iriene Borges
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Enquanto houver amor em mim
Nada posso senão amar
Enquanto for romântico e vulgar
entretanto real o estampido
da bala de festim
cabe cair e morrer
sem sangrar
E fechada a cortina
levantar e sair
sem ver a platéia em catarse
a rir
do desempenho ridículo e sem par
Iriene Borges
Enquanto for romântico e vulgar
entretanto real o estampido
da bala de festim
cabe cair e morrer
sem sangrar
E fechada a cortina
levantar e sair
sem ver a platéia em catarse
a rir
do desempenho ridículo e sem par
Iriene Borges
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Pesadelos Urbanos
Ela pendia da cadeira alaranjada, como uma flor vistosa num caule fino. Ora o corpo pendia para um lado, ora para o outro, no embalo dos vendavais que fustigavam seu sono. Era a terceira noite que dormia sentada no banco da Rodoviária de Curitiba. Durante treze anos seu corpo habituara-se a pouco conforto. Na infância dormira em colchão de palha, e passara frio nas noites de inverno, incapaz de puxar a coberta que aquecia as irmãs. Dormir sentada só não era mais torturante porque ela estava entorpecida de novidades e luzes. Boa escolha a rodoviária. Aberta vinte e quatro horas, iluminada, todos só de passagem. Mas aquela era a terceira noite, e a flor, sonolenta, faminta e aturdida, desabava sobre a cadeira alaranjada. Quando uma voz grave sussurrou em seu ouvido “ Você não gostaria de dormir numa cama quentinha?” ela sequer respondeu. Movida por uma vontade anterior ao raciocínio ergueu-se e seguiu a voz. Era uma bela voz, e soava tão distante, como se viesse de outras esferas, outra dimensão. Aquela voz era macia, como lençóis brancos e tolha felpuda, e quando ela soava, ao fundo ouvia-se uma orquestra de águas mornas. E vozes assim bonitas e confortantes só podem ser de anjos. Há treze anos esperava por um que a salvasse. E ele viera na hora de seu maior desespero e a guiava por uma estrada de taxis alaranjados e depois por uma trilha de luzes, na qual seguia leve como se fosse incorpórea.
Mas a trilha revelava-se sinuosa e sombria. E à medida que a luz empalidecia o torpor diminuía. Começou a sentir o movimento cadenciado das pernas e o esforço das pálpebras na luta contra o sono. O frio de março manifestou-se num arrepio permanente. Assustou-se ao perceber que não ouvia mais a voz macia e branca, morna e corrente. Caminhava em silêncio, e ao seu lado outros passos, mais duros e pesados do que os seus . Não olhou. Um alarme silencioso ressoou em seus ossos. “Que um anjo a guiasse pelo caminho mais estreito era plausível, mas esse era o mais escuro”.Agarrou-se na maravilhosa sensação que aquela voz despertara, e arrastada por ela seguiu até o fim da trilha. E sim, estava escrito hotel. Ainda havia uma esperançazinha, uma ínfima possibilidade, quando uma voz estridente pediu ao recepcionista um quarto. Pagamento adiantado, sem registro no livro. E quando uma chave foi posta sobre o balcão ela catou e no mesmo fôlego voou escada acima. Sentiu-se nos labirintos sensoriais de seus pesadelos quando um homem atravancou a porta antes que pudesse fechá-la. Ficou atônita com a rapidez que ele a alcançara. Não se deixou agarrar. Antes, abriu passagem. Ele percebeu seu medo, a porta entreaberta, e disse “ posso dormir nos seus pés?”. E foi então que ela o viu. Sim poderia dormir aos seus pés, atravessado na cama, pois era bem pequeno. E perceber isso amainou o medo. Segurou a chave com força, olhou a cama bem arrumada, inspirou o cheiro morno de mofo no cômodo, o cheiro de limpo e guardado entremeado nos lençóis e cobertas e ouviu uma sinfonia de águas mornas correndo em seu corpo. Num gesto inesperado jogou a chave sobre a cama e disse “ pode ficar com a cama inteira”. Voou escada abaixo no mesmo tom.
Voltou para a rodoviária tateando no escuro da memória. Súbito estava na Cadeira alaranjada novamente. Triste, como uma flor queimada pela geada. Engolindo o pensamento que a recriminava por não ter tido coragem de olhar nos olhos do homem que lhe tirara a inocência. Nunca reconstituiria a trilha de luzes. E sempre gostaria mais da penumbra.
Iriene Borges
Mas a trilha revelava-se sinuosa e sombria. E à medida que a luz empalidecia o torpor diminuía. Começou a sentir o movimento cadenciado das pernas e o esforço das pálpebras na luta contra o sono. O frio de março manifestou-se num arrepio permanente. Assustou-se ao perceber que não ouvia mais a voz macia e branca, morna e corrente. Caminhava em silêncio, e ao seu lado outros passos, mais duros e pesados do que os seus . Não olhou. Um alarme silencioso ressoou em seus ossos. “Que um anjo a guiasse pelo caminho mais estreito era plausível, mas esse era o mais escuro”.Agarrou-se na maravilhosa sensação que aquela voz despertara, e arrastada por ela seguiu até o fim da trilha. E sim, estava escrito hotel. Ainda havia uma esperançazinha, uma ínfima possibilidade, quando uma voz estridente pediu ao recepcionista um quarto. Pagamento adiantado, sem registro no livro. E quando uma chave foi posta sobre o balcão ela catou e no mesmo fôlego voou escada acima. Sentiu-se nos labirintos sensoriais de seus pesadelos quando um homem atravancou a porta antes que pudesse fechá-la. Ficou atônita com a rapidez que ele a alcançara. Não se deixou agarrar. Antes, abriu passagem. Ele percebeu seu medo, a porta entreaberta, e disse “ posso dormir nos seus pés?”. E foi então que ela o viu. Sim poderia dormir aos seus pés, atravessado na cama, pois era bem pequeno. E perceber isso amainou o medo. Segurou a chave com força, olhou a cama bem arrumada, inspirou o cheiro morno de mofo no cômodo, o cheiro de limpo e guardado entremeado nos lençóis e cobertas e ouviu uma sinfonia de águas mornas correndo em seu corpo. Num gesto inesperado jogou a chave sobre a cama e disse “ pode ficar com a cama inteira”. Voou escada abaixo no mesmo tom.
Voltou para a rodoviária tateando no escuro da memória. Súbito estava na Cadeira alaranjada novamente. Triste, como uma flor queimada pela geada. Engolindo o pensamento que a recriminava por não ter tido coragem de olhar nos olhos do homem que lhe tirara a inocência. Nunca reconstituiria a trilha de luzes. E sempre gostaria mais da penumbra.
Iriene Borges
sábado, 3 de janeiro de 2009
Cai o pano
Eu devia engolir a fala
do modo que engulo o choro
e o retenho com um nó na garganta
e outras linhas emaranhadas.
Mas a palavra me desata me destorce
faca afiada me destrincha expondo trapos
desfia o alinhavo
da figura adquirida em banca de retalhos
mostra-me em cada laivo a artesania
dos adereços de rebotalhos
A isso que sou
...................boneca de sonho
........................................títere do som
não cabe reter a palavra que resvala
Iriene Borges
do modo que engulo o choro
e o retenho com um nó na garganta
e outras linhas emaranhadas.
Mas a palavra me desata me destorce
faca afiada me destrincha expondo trapos
desfia o alinhavo
da figura adquirida em banca de retalhos
mostra-me em cada laivo a artesania
dos adereços de rebotalhos
A isso que sou
...................boneca de sonho
........................................títere do som
não cabe reter a palavra que resvala
Iriene Borges
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