domingo, 23 de novembro de 2008

Judite e Holofernes
By Michelangelo Merisi da Caravaggio

A vingança Espera

O sujeito frio
que você espezinha
só é duro por fora.
Dentro é carne e incerteza
como você é agora

Com unhas e dentes
você não quebra a casca
nem dissolve a lasca
de desencantamento
a tapar sua visão.

Deixe que esvazie
esse corpo de cólera
a arrastar sua alma
para um ringue de lodo

Dissimule na sombra
o semblante de ódio
a retorcer-se todo.

Iriene Borges

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Woman in the sun
By Edward Hopper

Banho

Esse sol
não seca meus cabelos
nem incinera minha fúria

Esse sol
não abre portões
nem clareia mentes opacas

E a música
é um hiato
pelo qual não passamos.

Iriene Borges

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Reverso

Sei que vigias a janela descoberta
Tinta fresca na fachada todo dia
a registrar a caligrafia da passagem

Sou eu à espreita
Olhos acesos no desconhecido
anseios que trepidam a cada ruído

Sou eu
imagem distorcida em teu escudo
Ergo-me do fundo escuro
serpenteando em tua retina
a farejar teu medo

Iriene Borges

domingo, 2 de novembro de 2008

Linóleo
Iriene Borges

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Refletindo silêncio

Para longe de mim
Equilibrando-me
sobre o fio esticado
entre sonho e juízo
prestes a estatelar-me
na rudeza dos fatos
prestes a alçar vôo
rumo a pouso impreciso

Para longe de mim
A ressonância da tua voz
provoca tremores
muda o curso da libido
no murmúrio raso
do discurso fluido que escorre
para minhas profundezas

Para longe de mim
Que a figura
debruçada na janela irreal
seja a imagem colhida
pela menina em meus olhos
a ostentar indiferença

Estrela longínqua
refletindo silêncio
no mar

Iriene Borges

terça-feira, 28 de outubro de 2008



Gravura

Metal

Iriene Borges

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Eu devia saber

aquele gosto de vida na boca
era resíduo
de um sonho que tive

Iriene Borges
Foto: Iriene Borges

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Auto-Retrato Abstrato

Acontece que o nível decai
e cada dia se aceita menos
Os olhares doídos
e os hálitos pútridos
ameaçam entrar em mim
contaminando
qual entidade funesta
a conspurcar a vontade

Tenho ímpetos de morrer
se em meio à vida
e anseio viver
ao deparar com a morte

Meu destino é branco
para riscar a loucura
e refutar a sanidade
em fúrias negras

Temo o tédio, o ordinário
e a insensibilidade iminente
Prefiro que a vida doa
e quando dói não suporto

Na superfície sinto nada
ricocheteia o nada
arde o nada

Me corrói o nada

Iriene borges

sábado, 4 de outubro de 2008

Eu vi uma mulher morrer

Em seu rosto todas as idades
pereceram serenamente
De seus olhos lembranças
jorraram até secar
De sua boca suspiros vários
em seu último alento
Eu dormi em seu corpo
rígido e frio, até de manhã
Quando acordei me recobria
sua carne dura e seus ossos
me aprisionavam severamente,
estrangulavam-me a alma

Eu não me debati
Sequer tentei gritar
Mas tinha fome de viver
e comecei a mastigar

Iriene Borges

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Foto: Nicole Ledermann Cantéli

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Delírio

No pensamento a tua ausência é leve.
A tua ausência é lisa, tua ausência é rasa,
e desmancha-se no meu corpo em brasa
como inúmeros brancos flocos de neve.

Nos meus sentidos dados à minúcia
a tua ausência tem um peso de aura,
um porte de musa, uma doçura rara,
silêncio de prece, delirante fragrância.

E ela é tão suave, mesmo sendo constante
que às vezes em devaneio me surpreendo
dando atenção à idéia errante

de que existe um elo permanente.
E nem por força da vontade me desprendo
da sensação de que estás presente.

Iriene Borges

http://www.bardoescritor.net/ezine.html#Del%EDrio

domingo, 28 de setembro de 2008

Flerte

Sua fala
entremeada de sorrisos
exibe dentes delicados

Eu salivo
antecipando o sabor

Meu olhar come
você devagar,
lambendo o rosto
matizado
de cinza e rosa;
suga boca,
forma e textura

Nesse banquete
me aturde o prazer
que a língua goza

Vacilo
no gesticular constante
de suas mãos nodosas

E me deparo
com seu olho metálico,
liga de castanho e cobre,
que me procura
e foge

se me descobre.

Iriene Borges

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Foto: Iriene Borges

sábado, 20 de setembro de 2008

Mormaço

Pálpebra pesada
Da janela sonolenta
pende a fuligem preta

O castelo de nuvens
tornou-se borrão
na vista cinzenta

Mormacenta e embaçada,
atmosfera lúgubre
precede a tormenta

Opaca letargia
vai escorrer
da vidraça

Eu choro
sempre que preciso
de luzes

Iriene Borges

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Foto: Iriene Borges

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A voz

A voz é minha
E diz desencanto
Cantigas de não esperar
Angústia que se materializa
No plexo solar

É noite para toda carne


Iriene Borges

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Delírio

No pensamento a tua ausência é leve.
A tua ausência é lisa, tua ausência é rasa,
e desmancha-se no meu corpo em brasa
como inúmeros brancos flocos de neve.

Nos meus sentidos dados à minúcia
a tua ausência tem um peso de aura,
um porte de musa, uma doçura rara,
silêncio de prece, delirante fragrância.

E ela é tão suave, mesmo sendo constante
que às vezes em devaneio me surpreendo
dando atenção à idéia errante

de que existe um elo permanente.
E nem por força da vontade me desprendo
da sensação de que estás presente.

Iriene Borges