Se você não responde às linguas que falo
calo a saudade
Não saiba na voz doce o desencanto decantado
Não saiba a fantasia de princesa
No seu baile malogrado
Calo em mim o rumor de flores eclodindo
e deito a pétala mal- me- quer
no vestido amarrotado
já embolado nas gavetas da memória
aos panos rotos de outros bailes
em que os buquês murcharam no meu seio
e mãos pendidas ao longo do desencontro
não me enlaçaram
Esse sorriso branco bem bordado
é trama nos tecidos tenros da menina
que ficou às margens do salão
com música alucinando sob o decoro
os acordes esgarçando as rendas do regaço
e pés febris tesos num sapato nunca usado
e a quem coube ir embora
ao primeiro tom da aurora
sem ter dançado
Iriene Borges
domingo, 28 de dezembro de 2008
O estalo
Açoites
e os manejas com a língua afoita
para sorver o gosto da vida que vaza
Mas não sangra a asa imaginária
Escalavra em seu ruflar a aurora das palavras
no breu que insistes erigir por minha casa
Iriene Borges
e os manejas com a língua afoita
para sorver o gosto da vida que vaza
Mas não sangra a asa imaginária
Escalavra em seu ruflar a aurora das palavras
no breu que insistes erigir por minha casa
Iriene Borges
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Descolor(ações)
Verso pouco as cores do arco-iris
Parei logo nos sorrisos amarelos
Não saberia ser menina cor de rosa
Naturais me eram versos brancos
brancas ardências dardejadas
em centelhas luminosas
Mas súbito meu âmago adormecido
explodiu em tons de lava e cinza
E eu versejo
porque o que já não viceja em mim
germina de novo no bojo da palavra
O véu brumoso de fuligem que enegrece
meu discernimento vítreo espelhado
é só a junção de todas as cores da paleta
Na tinta suja dos negrumes versados
subsistem minhas cores puras
em nuances desveladas à boa luz
Iriene Borges
Parei logo nos sorrisos amarelos
Não saberia ser menina cor de rosa
Naturais me eram versos brancos
brancas ardências dardejadas
em centelhas luminosas
Mas súbito meu âmago adormecido
explodiu em tons de lava e cinza
E eu versejo
porque o que já não viceja em mim
germina de novo no bojo da palavra
O véu brumoso de fuligem que enegrece
meu discernimento vítreo espelhado
é só a junção de todas as cores da paleta
Na tinta suja dos negrumes versados
subsistem minhas cores puras
em nuances desveladas à boa luz
Iriene Borges
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Beijos de pedra e nicotina
eu amo muito mais o amor,
portanto já traí minha promessa
não tenha pressa de saber
eu amo muito mais o amor
e outro olhar há de vestir
de mistério a nudez violada
por teu falo e tua fala
outra boca há de neutralizar
o verso ácido em minha saliva,
e espanar as cinzas dos teus beijos
de pedra e nicotina
Iriene Borges
portanto já traí minha promessa
não tenha pressa de saber
eu amo muito mais o amor
e outro olhar há de vestir
de mistério a nudez violada
por teu falo e tua fala
outra boca há de neutralizar
o verso ácido em minha saliva,
e espanar as cinzas dos teus beijos
de pedra e nicotina
Iriene Borges
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Pesadelo
É o medo falando!
Há sombra e caos
O ritmo é taquicardia
Há também, e acima disso
uma dor calada
encalacrada feito o mal
dissimulado na inevitável
desfaçatez humana
É o medo. E ele diz
que não há tempo,
embora o tempo me devore
E também diz que o desejo
é uma chama que se apaga
enquanto tomo fôlego
É só o medo. Só uma âncora
a sussurrar que sou apenas
um barquinho ordinário
Mas eu sonho que sou a água
Iriene Borges
Há sombra e caos
O ritmo é taquicardia
Há também, e acima disso
uma dor calada
encalacrada feito o mal
dissimulado na inevitável
desfaçatez humana
É o medo. E ele diz
que não há tempo,
embora o tempo me devore
E também diz que o desejo
é uma chama que se apaga
enquanto tomo fôlego
É só o medo. Só uma âncora
a sussurrar que sou apenas
um barquinho ordinário
Mas eu sonho que sou a água
Iriene Borges
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Sugestões
Eu estou tremendo
Um pouco de ira
Um pouco de medo
E muito de frio
Esse ódio ardendo
A náusea que revira
E em cada dedo
Uma garra que afio
Estou antevendo
A crepitar esta pira
Não mais em segredo
Não mais no bafio
E quando eu acabar
De parir esta dor
Hei de enforcá-la
No próprio cordão
E hei de despejar,
Sem qualquer pudor
Numa rasa vala
De qualquer chão
Não me surpreendo
Se geme e respira
Do fundo do poço
Um sonho vazio
Conquanto morrendo
Num fogo que inspira
Pergunto:
Quem foi a besta
Que acendeu o pavio?
Iriene Borges
Um pouco de ira
Um pouco de medo
E muito de frio
Esse ódio ardendo
A náusea que revira
E em cada dedo
Uma garra que afio
Estou antevendo
A crepitar esta pira
Não mais em segredo
Não mais no bafio
E quando eu acabar
De parir esta dor
Hei de enforcá-la
No próprio cordão
E hei de despejar,
Sem qualquer pudor
Numa rasa vala
De qualquer chão
Não me surpreendo
Se geme e respira
Do fundo do poço
Um sonho vazio
Conquanto morrendo
Num fogo que inspira
Pergunto:
Quem foi a besta
Que acendeu o pavio?
Iriene Borges
sábado, 6 de dezembro de 2008
Versos Desfiados
Perdoe-me se te desfaço
como quem puxa o fio
de tecido delicado.
Quando teci tua imagem
com a fibra do meu sonho
pensei tê-la eternizado.
Mas esse véu de insensatez
a encobrir meu discernimento
precisa ser desmanchado.
No esforço vão de sobreviver,
pesarosa, destruo a fina arte
do meu olhar apaixonado.
Iriene Borges
como quem puxa o fio
de tecido delicado.
Quando teci tua imagem
com a fibra do meu sonho
pensei tê-la eternizado.
Mas esse véu de insensatez
a encobrir meu discernimento
precisa ser desmanchado.
No esforço vão de sobreviver,
pesarosa, destruo a fina arte
do meu olhar apaixonado.
Iriene Borges
domingo, 23 de novembro de 2008
A vingança Espera
O sujeito frio
que você espezinha
só é duro por fora.
Dentro é carne e incerteza
como você é agora
Com unhas e dentes
você não quebra a casca
nem dissolve a lasca
de desencantamento
a tapar sua visão.
Deixe que esvazie
esse corpo de cólera
a arrastar sua alma
para um ringue de lodo
Dissimule na sombra
o semblante de ódio
a retorcer-se todo.
Iriene Borges
que você espezinha
só é duro por fora.
Dentro é carne e incerteza
como você é agora
Com unhas e dentes
você não quebra a casca
nem dissolve a lasca
de desencantamento
a tapar sua visão.
Deixe que esvazie
esse corpo de cólera
a arrastar sua alma
para um ringue de lodo
Dissimule na sombra
o semblante de ódio
a retorcer-se todo.
Iriene Borges
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Banho
Esse sol
não seca meus cabelos
nem incinera minha fúria
Esse sol
não abre portões
nem clareia mentes opacas
E a música
é um hiato
pelo qual não passamos.
Iriene Borges
não seca meus cabelos
nem incinera minha fúria
Esse sol
não abre portões
nem clareia mentes opacas
E a música
é um hiato
pelo qual não passamos.
Iriene Borges
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Reverso
Sei que vigias a janela descoberta
Tinta fresca na fachada todo dia
a registrar a caligrafia da passagem
Sou eu à espreita
Olhos acesos no desconhecido
anseios que trepidam a cada ruído
Sou eu
imagem distorcida em teu escudo
Ergo-me do fundo escuro
serpenteando em tua retina
a farejar teu medo
Iriene Borges
Tinta fresca na fachada todo dia
a registrar a caligrafia da passagem
Sou eu à espreita
Olhos acesos no desconhecido
anseios que trepidam a cada ruído
Sou eu
imagem distorcida em teu escudo
Ergo-me do fundo escuro
serpenteando em tua retina
a farejar teu medo
Iriene Borges
domingo, 2 de novembro de 2008
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Refletindo silêncio
Para longe de mim
Equilibrando-me
sobre o fio esticado
entre sonho e juízo
prestes a estatelar-me
na rudeza dos fatos
prestes a alçar vôo
rumo a pouso impreciso
Para longe de mim
A ressonância da tua voz
provoca tremores
muda o curso da libido
no murmúrio raso
do discurso fluido que escorre
para minhas profundezas
Para longe de mim
Que a figura
debruçada na janela irreal
seja a imagem colhida
pela menina em meus olhos
a ostentar indiferença
Estrela longínqua
refletindo silêncio
no mar
Iriene Borges
Equilibrando-me
sobre o fio esticado
entre sonho e juízo
prestes a estatelar-me
na rudeza dos fatos
prestes a alçar vôo
rumo a pouso impreciso
Para longe de mim
A ressonância da tua voz
provoca tremores
muda o curso da libido
no murmúrio raso
do discurso fluido que escorre
para minhas profundezas
Para longe de mim
Que a figura
debruçada na janela irreal
seja a imagem colhida
pela menina em meus olhos
a ostentar indiferença
Estrela longínqua
refletindo silêncio
no mar
Iriene Borges
terça-feira, 28 de outubro de 2008
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Auto-Retrato Abstrato
Acontece que o nível decai
e cada dia se aceita menos
Os olhares doídos
e os hálitos pútridos
ameaçam entrar em mim
contaminando
qual entidade funesta
a conspurcar a vontade
Tenho ímpetos de morrer
se em meio à vida
e anseio viver
ao deparar com a morte
Meu destino é branco
para riscar a loucura
e refutar a sanidade
em fúrias negras
Temo o tédio, o ordinário
e a insensibilidade iminente
Prefiro que a vida doa
e quando dói não suporto
Na superfície sinto nada
ricocheteia o nada
arde o nada
Me corrói o nada
Iriene borges
e cada dia se aceita menos
Os olhares doídos
e os hálitos pútridos
ameaçam entrar em mim
contaminando
qual entidade funesta
a conspurcar a vontade
Tenho ímpetos de morrer
se em meio à vida
e anseio viver
ao deparar com a morte
Meu destino é branco
para riscar a loucura
e refutar a sanidade
em fúrias negras
Temo o tédio, o ordinário
e a insensibilidade iminente
Prefiro que a vida doa
e quando dói não suporto
Na superfície sinto nada
ricocheteia o nada
arde o nada
Me corrói o nada
Iriene borges
sábado, 4 de outubro de 2008
Eu vi uma mulher morrer
Em seu rosto todas as idades
pereceram serenamente
De seus olhos lembranças
jorraram até secar
De sua boca suspiros vários
em seu último alento
Eu dormi em seu corpo
rígido e frio, até de manhã
Quando acordei me recobria
sua carne dura e seus ossos
me aprisionavam severamente,
estrangulavam-me a alma
Eu não me debati
Sequer tentei gritar
Mas tinha fome de viver
e comecei a mastigar
Iriene Borges
pereceram serenamente
De seus olhos lembranças
jorraram até secar
De sua boca suspiros vários
em seu último alento
Eu dormi em seu corpo
rígido e frio, até de manhã
Quando acordei me recobria
sua carne dura e seus ossos
me aprisionavam severamente,
estrangulavam-me a alma
Eu não me debati
Sequer tentei gritar
Mas tinha fome de viver
e comecei a mastigar
Iriene Borges
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Delírio
No pensamento a tua ausência é leve.
A tua ausência é lisa, tua ausência é rasa,
e desmancha-se no meu corpo em brasa
como inúmeros brancos flocos de neve.
Nos meus sentidos dados à minúcia
a tua ausência tem um peso de aura,
um porte de musa, uma doçura rara,
silêncio de prece, delirante fragrância.
E ela é tão suave, mesmo sendo constante
que às vezes em devaneio me surpreendo
dando atenção à idéia errante
de que existe um elo permanente.
E nem por força da vontade me desprendo
da sensação de que estás presente.
Iriene Borges
http://www.bardoescritor.net/ezine.html#Del%EDrio
A tua ausência é lisa, tua ausência é rasa,
e desmancha-se no meu corpo em brasa
como inúmeros brancos flocos de neve.
Nos meus sentidos dados à minúcia
a tua ausência tem um peso de aura,
um porte de musa, uma doçura rara,
silêncio de prece, delirante fragrância.
E ela é tão suave, mesmo sendo constante
que às vezes em devaneio me surpreendo
dando atenção à idéia errante
de que existe um elo permanente.
E nem por força da vontade me desprendo
da sensação de que estás presente.
Iriene Borges
http://www.bardoescritor.net/ezine.html#Del%EDrio
domingo, 28 de setembro de 2008
Flerte
Sua fala
entremeada de sorrisos
exibe dentes delicados
Eu salivo
antecipando o sabor
Meu olhar come
você devagar,
lambendo o rosto
matizado
de cinza e rosa;
suga boca,
forma e textura
Nesse banquete
me aturde o prazer
que a língua goza
Vacilo
no gesticular constante
de suas mãos nodosas
E me deparo
com seu olho metálico,
liga de castanho e cobre,
que me procura
e foge
se me descobre.
Iriene Borges
entremeada de sorrisos
exibe dentes delicados
Eu salivo
antecipando o sabor
Meu olhar come
você devagar,
lambendo o rosto
matizado
de cinza e rosa;
suga boca,
forma e textura
Nesse banquete
me aturde o prazer
que a língua goza
Vacilo
no gesticular constante
de suas mãos nodosas
E me deparo
com seu olho metálico,
liga de castanho e cobre,
que me procura
e foge
se me descobre.
Iriene Borges
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
sábado, 20 de setembro de 2008
Mormaço
Pálpebra pesada
Da janela sonolenta
pende a fuligem preta
O castelo de nuvens
tornou-se borrão
na vista cinzenta
Mormacenta e embaçada,
atmosfera lúgubre
precede a tormenta
Opaca letargia
vai escorrer
da vidraça
Eu choro
sempre que preciso
de luzes
Iriene Borges
Da janela sonolenta
pende a fuligem preta
O castelo de nuvens
tornou-se borrão
na vista cinzenta
Mormacenta e embaçada,
atmosfera lúgubre
precede a tormenta
Opaca letargia
vai escorrer
da vidraça
Eu choro
sempre que preciso
de luzes
Iriene Borges
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
A voz
A voz é minha
E diz desencanto
Cantigas de não esperar
Angústia que se materializa
No plexo solar
É noite para toda carne
Iriene Borges
E diz desencanto
Cantigas de não esperar
Angústia que se materializa
No plexo solar
É noite para toda carne
Iriene Borges
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Delírio
No pensamento a tua ausência é leve.
A tua ausência é lisa, tua ausência é rasa,
e desmancha-se no meu corpo em brasa
como inúmeros brancos flocos de neve.
Nos meus sentidos dados à minúcia
a tua ausência tem um peso de aura,
um porte de musa, uma doçura rara,
silêncio de prece, delirante fragrância.
E ela é tão suave, mesmo sendo constante
que às vezes em devaneio me surpreendo
dando atenção à idéia errante
de que existe um elo permanente.
E nem por força da vontade me desprendo
da sensação de que estás presente.
Iriene Borges
A tua ausência é lisa, tua ausência é rasa,
e desmancha-se no meu corpo em brasa
como inúmeros brancos flocos de neve.
Nos meus sentidos dados à minúcia
a tua ausência tem um peso de aura,
um porte de musa, uma doçura rara,
silêncio de prece, delirante fragrância.
E ela é tão suave, mesmo sendo constante
que às vezes em devaneio me surpreendo
dando atenção à idéia errante
de que existe um elo permanente.
E nem por força da vontade me desprendo
da sensação de que estás presente.
Iriene Borges
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
O gosto da Saudade
Começa metálico na boca
Escorre corrosivo na garganta
E gorjeia em meu estômago
Pássaro flamejante
A revirar o meu avesso
Latejo em espasmos suspensos
Entre a fome e a náusea
O desalento já fez ninho
Em meus cabelos.
Iriene Borges
Escorre corrosivo na garganta
E gorjeia em meu estômago
Pássaro flamejante
A revirar o meu avesso
Latejo em espasmos suspensos
Entre a fome e a náusea
O desalento já fez ninho
Em meus cabelos.
Iriene Borges
domingo, 17 de agosto de 2008
Espólio
Meu coração pulsa moroso, ressentido.
Em vigília, a poesia dele se compadece
e terna o inspira enquanto ele tece
o verso, para ludibriar o gemido.
Iriene Borges
Em vigília, a poesia dele se compadece
e terna o inspira enquanto ele tece
o verso, para ludibriar o gemido.
Iriene Borges
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Compulsão.
Essa raiva que você come,
sem modos,
nesse banquete
de sombras e medos,
não sacia,
apenas incita a imensa fome.
Na primeira lambida
é doce a vida.
Na segunda escapa o sabor à língua.
E a mordida principia
o desmanchar precoce
da alquímica receita de ilusão
na sua boca.
E você aperta entre dentes o ar,
a esmagar
qualquer indício de satisfação.
Iriene Borges
sem modos,
nesse banquete
de sombras e medos,
não sacia,
apenas incita a imensa fome.
Na primeira lambida
é doce a vida.
Na segunda escapa o sabor à língua.
E a mordida principia
o desmanchar precoce
da alquímica receita de ilusão
na sua boca.
E você aperta entre dentes o ar,
a esmagar
qualquer indício de satisfação.
Iriene Borges
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Liberdade e Aflição
Onde está esse grito?
Em qual deserto de palavras?
Em qual oceano de pranto?
Estará, difuso em espasmos,
embalando um sonho morto?
Ou embargado pelo suspiro
aliviado da última esperança
fero, ata-me a garganta?
Onde está esse grito,
liberdade e aflição,
que eu evito?
O débil impulso
que ruma à garganta
mas desvia o curso
minuto após minuto
Onde está esse grito,
liberdade e aflição,
que eu evito?
Em qual abismo-
o de árido silêncio
ou de enfático cinismo-
abafo meu grito?
Sempre este rito
de hábil dissimulação
e prático comodismo
ata meu grito.
Impróprio e proscrito.
Dissipa-se na garganta.
Propaga-se no infinito!
Iriene Borges
Em qual deserto de palavras?
Em qual oceano de pranto?
Estará, difuso em espasmos,
embalando um sonho morto?
Ou embargado pelo suspiro
aliviado da última esperança
fero, ata-me a garganta?
Onde está esse grito,
liberdade e aflição,
que eu evito?
O débil impulso
que ruma à garganta
mas desvia o curso
minuto após minuto
Onde está esse grito,
liberdade e aflição,
que eu evito?
Em qual abismo-
o de árido silêncio
ou de enfático cinismo-
abafo meu grito?
Sempre este rito
de hábil dissimulação
e prático comodismo
ata meu grito.
Impróprio e proscrito.
Dissipa-se na garganta.
Propaga-se no infinito!
Iriene Borges
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Crime Perfeito
O amor não te atinge
Empedernida esfinge
De enigmas insolúveis
Com palavras lacerantes
Esquartejas tuas amantes
No silêncio da madrugada
Iriene Borges
Empedernida esfinge
De enigmas insolúveis
Com palavras lacerantes
Esquartejas tuas amantes
No silêncio da madrugada
Iriene Borges
sexta-feira, 25 de julho de 2008
quinta-feira, 24 de julho de 2008
terça-feira, 22 de julho de 2008
Sexto Soneto- O Perdão
Ouvistes falar poeta, da ira divina
A vingança eterna, o ódio inesgotável
Mitos, ecos da humanidade implacável
Divino é o amor, luz que se dissemina
A ira existe, mas dilui-se em tristeza
Fel que torna o mundo intragável
E como não bastasse é inevitável
Saudade, a ferir-me com delicadeza
Entenda poeta, a natureza dos versos
Não é atender a impulsos perversos
É extravasar-me até purgar a paixão
Por que apesar de teres me denegrido
Me abandonado após ter me ferido
O amor executa de imediato o perdão
Iriene Borges
A vingança eterna, o ódio inesgotável
Mitos, ecos da humanidade implacável
Divino é o amor, luz que se dissemina
A ira existe, mas dilui-se em tristeza
Fel que torna o mundo intragável
E como não bastasse é inevitável
Saudade, a ferir-me com delicadeza
Entenda poeta, a natureza dos versos
Não é atender a impulsos perversos
É extravasar-me até purgar a paixão
Por que apesar de teres me denegrido
Me abandonado após ter me ferido
O amor executa de imediato o perdão
Iriene Borges
domingo, 20 de julho de 2008
Quinto Soneto- A queda
Amaste-me com a mesma devoção
Que dirigias ao ídolo esculpido
Amaste-me, poeta, isso é sabido
Quando, feita carne, desci ao chão
Eu te amei em tensa intensidade
Entrega sem medida ou condição
Não me era vedada a satisfação
Pudores são valores, não verdade
Ah, ruim percepção da humanidade!
O amor puro que supus corresponder
Parecia-te mera luxúria e perversidade
Amaste-me poeta, na fria imobilidade
Porém o medo usastes para perverter
O que era ideal, e eu tornei realidade
Iriene Borges
Que dirigias ao ídolo esculpido
Amaste-me, poeta, isso é sabido
Quando, feita carne, desci ao chão
Eu te amei em tensa intensidade
Entrega sem medida ou condição
Não me era vedada a satisfação
Pudores são valores, não verdade
Ah, ruim percepção da humanidade!
O amor puro que supus corresponder
Parecia-te mera luxúria e perversidade
Amaste-me poeta, na fria imobilidade
Porém o medo usastes para perverter
O que era ideal, e eu tornei realidade
Iriene Borges
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Quarto Soneto- A tua Deusa
Deusa, no mármore representada
Para enfeitar o vazio dos teus altares
Teus incensos rescendiam pelos ares
Tuas palavras me diziam ser amada
Meus pensamentos e os teus colidiam
Quando, poeta, declamavas a oração
Dentro da estátua pulsava um coração
Beijava-me os pés frios e eles sentiam
Um dia, nú e triste, subistes ao altar
Tua alma mostrou-se ali tão pura
E sem perceber comecei a te adorar
Era-me caro o teu contrito desnudar
Aos poucos insuflei vida na escultura
Eu, tua forma ideal, desci para te amar
Iriene Borges
Para enfeitar o vazio dos teus altares
Teus incensos rescendiam pelos ares
Tuas palavras me diziam ser amada
Meus pensamentos e os teus colidiam
Quando, poeta, declamavas a oração
Dentro da estátua pulsava um coração
Beijava-me os pés frios e eles sentiam
Um dia, nú e triste, subistes ao altar
Tua alma mostrou-se ali tão pura
E sem perceber comecei a te adorar
Era-me caro o teu contrito desnudar
Aos poucos insuflei vida na escultura
Eu, tua forma ideal, desci para te amar
Iriene Borges
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Engano
À boca o paladar prende teu gosto
O calor do teu contato dança na pele
Não há água que lave tuas marcas
Nem fogo que incinere teus vestígios
Da eteridade de minh`alma
A eternidade que te dei em pensamento
Talvez tenha feito indelével teus instantes
E errado a dimensão dos teus fragmentos
Iriene Borges
O calor do teu contato dança na pele
Não há água que lave tuas marcas
Nem fogo que incinere teus vestígios
Da eteridade de minh`alma
A eternidade que te dei em pensamento
Talvez tenha feito indelével teus instantes
E errado a dimensão dos teus fragmentos
Iriene Borges
terça-feira, 15 de julho de 2008
A Primeira Resposta
Repito, sempre
E com tanto afinco,
que não me sabes.
E respondes que me vês
Mas bóia em teus olhos imagem
Não correspondente à minha nudez
Minh´alma inteira
Entregue toca a tua
que se dissipa à minha frente
como em um pesadelo
O mundo grita o desespero
que não revelo!
Te sigo.
Lúcida ao extremo
Perplexidade e vertigem
Estrela, relegada
ao percurso das madrugadas
Cobre-me um véu de neblina
Iriene Borges
E com tanto afinco,
que não me sabes.
E respondes que me vês
Mas bóia em teus olhos imagem
Não correspondente à minha nudez
Minh´alma inteira
Entregue toca a tua
que se dissipa à minha frente
como em um pesadelo
O mundo grita o desespero
que não revelo!
Te sigo.
Lúcida ao extremo
Perplexidade e vertigem
Estrela, relegada
ao percurso das madrugadas
Cobre-me um véu de neblina
Iriene Borges
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Resposta ao Poeta
Narciso ao contrário
repeles-me por que teu reflexo
bóia nos meus olhos d água
Perfeitamente otário
tenta me reduzir ao sexo
e medir minh alma a régua
Se me chama de meretriz
e me trata feito cadela
é por que paga amor com mágoa
Cínico me louva boa atriz
por que-ironia singela
teu personagem não dá trégua
Vagabundo e ordinário
não te reconheces no grande poeta
e transfere para mim a tua nódoa
E constituístes teu calvário
amar-me uma mulher completa
e esfacelar-me com tua língua
E constituístes meu calvário
amar, numa felicidade que cresce.
num dia, e que no outro mingua.
Iriene Borges
repeles-me por que teu reflexo
bóia nos meus olhos d água
Perfeitamente otário
tenta me reduzir ao sexo
e medir minh alma a régua
Se me chama de meretriz
e me trata feito cadela
é por que paga amor com mágoa
Cínico me louva boa atriz
por que-ironia singela
teu personagem não dá trégua
Vagabundo e ordinário
não te reconheces no grande poeta
e transfere para mim a tua nódoa
E constituístes teu calvário
amar-me uma mulher completa
e esfacelar-me com tua língua
E constituístes meu calvário
amar, numa felicidade que cresce.
num dia, e que no outro mingua.
Iriene Borges
Eco sem repercussão
Acostume-se à solidão
Preserve-a entre muitos
Erija uma distância
Entre tua alma e as outras
Nada espere dos próximos
E retribua a generosidade
Dos estranhos do acaso
Jamais se habitue
Ao cuidado alheio
Nem se afeiçoe
A qualquer carícia
Esteja alerta
Não se perca em perdas
Nem lamente não ganhar
Seja seca e fria
Qual vento que fustiga
Crepite o fogo eterno
Em sua alma
Mas por fora areia
Do deserto noturno
Mutável como as dunas
A tragar o movimento
Traiçoeiro do mundo
Iriene Borges
Preserve-a entre muitos
Erija uma distância
Entre tua alma e as outras
Nada espere dos próximos
E retribua a generosidade
Dos estranhos do acaso
Jamais se habitue
Ao cuidado alheio
Nem se afeiçoe
A qualquer carícia
Esteja alerta
Não se perca em perdas
Nem lamente não ganhar
Seja seca e fria
Qual vento que fustiga
Crepite o fogo eterno
Em sua alma
Mas por fora areia
Do deserto noturno
Mutável como as dunas
A tragar o movimento
Traiçoeiro do mundo
Iriene Borges
Relato da Espera
Espero ansiosamente.
O cheiro de cigarro ao meu entorno!
Não o dissipa o vapor do banho quente.
Meu pensamento escorre espesso e morno
O cheiro de sebo da sua testa
A impregnar o travesseiro afasta o sono
E um odor leve de suor ainda resta
Nesses lençóis em que me abandono
Espera de eras, horas tristes
Acaricio melancólica as flores roxas
Que meticulosamente espalhastes
Entre o pescoço e a maciez das coxas
Esse desejo que persiste!
O sentir desmesurado e desconexo
Prurido de paixão ordinária, mas insiste
Em transcender a dimensão do sexo
E faz com que eu aceite,
Fúria contida em alegre alarde
Diluindo-se em irrefutável deleite
O que me dás, mesmo vindo tarde
E exige que me deite
Na rede fantasiosa que me aturde
E me dispa para que me enfeite
O véu de ilusões que teu feito urde
Iriene Borges
O cheiro de cigarro ao meu entorno!
Não o dissipa o vapor do banho quente.
Meu pensamento escorre espesso e morno
O cheiro de sebo da sua testa
A impregnar o travesseiro afasta o sono
E um odor leve de suor ainda resta
Nesses lençóis em que me abandono
Espera de eras, horas tristes
Acaricio melancólica as flores roxas
Que meticulosamente espalhastes
Entre o pescoço e a maciez das coxas
Esse desejo que persiste!
O sentir desmesurado e desconexo
Prurido de paixão ordinária, mas insiste
Em transcender a dimensão do sexo
E faz com que eu aceite,
Fúria contida em alegre alarde
Diluindo-se em irrefutável deleite
O que me dás, mesmo vindo tarde
E exige que me deite
Na rede fantasiosa que me aturde
E me dispa para que me enfeite
O véu de ilusões que teu feito urde
Iriene Borges
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