quarta-feira, 30 de julho de 2008

Crime Perfeito

O amor não te atinge
Empedernida esfinge
De enigmas insolúveis

Com palavras lacerantes
Esquartejas tuas amantes
No silêncio da madrugada

Iriene Borges

domingo, 27 de julho de 2008

Acrílico sobre tela
Iriene Borges

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Tempo
Foto: Luis Gustavo

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Aos poucos a luz recua e anoitece
A saudade é lua branca, lua cheia
Refletida em teus olhos a noite cresce
Refletida em mim a lua incendeia

Iriene Borges

terça-feira, 22 de julho de 2008



Foto: Iriene Borges

Sexto Soneto- O Perdão

Ouvistes falar poeta, da ira divina
A vingança eterna, o ódio inesgotável
Mitos, ecos da humanidade implacável
Divino é o amor, luz que se dissemina

A ira existe, mas dilui-se em tristeza
Fel que torna o mundo intragável
E como não bastasse é inevitável
Saudade, a ferir-me com delicadeza

Entenda poeta, a natureza dos versos
Não é atender a impulsos perversos
É extravasar-me até purgar a paixão

Por que apesar de teres me denegrido
Me abandonado após ter me ferido
O amor executa de imediato o perdão

Iriene Borges

domingo, 20 de julho de 2008

Quinto Soneto- A queda

Amaste-me com a mesma devoção
Que dirigias ao ídolo esculpido
Amaste-me, poeta, isso é sabido
Quando, feita carne, desci ao chão

Eu te amei em tensa intensidade
Entrega sem medida ou condição
Não me era vedada a satisfação
Pudores são valores, não verdade

Ah, ruim percepção da humanidade!
O amor puro que supus corresponder
Parecia-te mera luxúria e perversidade

Amaste-me poeta, na fria imobilidade
Porém o medo usastes para perverter
O que era ideal, e eu tornei realidade

Iriene Borges

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Quarto Soneto- A tua Deusa

Deusa, no mármore representada
Para enfeitar o vazio dos teus altares
Teus incensos rescendiam pelos ares
Tuas palavras me diziam ser amada

Meus pensamentos e os teus colidiam
Quando, poeta, declamavas a oração
Dentro da estátua pulsava um coração
Beijava-me os pés frios e eles sentiam

Um dia, nú e triste, subistes ao altar
Tua alma mostrou-se ali tão pura
E sem perceber comecei a te adorar

Era-me caro o teu contrito desnudar
Aos poucos insuflei vida na escultura
Eu, tua forma ideal, desci para te amar

Iriene Borges


Foto: Iriene Borges

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Engano

À boca o paladar prende teu gosto

O calor do teu contato dança na pele

Não há água que lave tuas marcas

Nem fogo que incinere teus vestígios

Da eteridade de minh`alma

A eternidade que te dei em pensamento

Talvez tenha feito indelével teus instantes

E errado a dimensão dos teus fragmentos

Iriene Borges

terça-feira, 15 de julho de 2008

A Primeira Resposta

Repito, sempre
E com tanto afinco,
que não me sabes.
E respondes que me vês
Mas bóia em teus olhos imagem
Não correspondente à minha nudez

Minh´alma inteira
Entregue toca a tua
que se dissipa à minha frente
como em um pesadelo
O mundo grita o desespero
que não revelo!


Te sigo.
Lúcida ao extremo
Perplexidade e vertigem


Estrela, relegada
ao percurso das madrugadas
Cobre-me um véu de neblina

Iriene Borges

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Resposta ao Poeta

Narciso ao contrário
repeles-me por que teu reflexo
bóia nos meus olhos d água

Perfeitamente otário
tenta me reduzir ao sexo
e medir minh alma a régua

Se me chama de meretriz
e me trata feito cadela
é por que paga amor com mágoa

Cínico me louva boa atriz
por que-ironia singela
teu personagem não dá trégua

Vagabundo e ordinário
não te reconheces no grande poeta
e transfere para mim a tua nódoa

E constituístes teu calvário
amar-me uma mulher completa
e esfacelar-me com tua língua

E constituístes meu calvário
amar, numa felicidade que cresce.
num dia, e que no outro mingua.

Iriene Borges

Eco sem repercussão

Acostume-se à solidão
Preserve-a entre muitos
Erija uma distância
Entre tua alma e as outras
Nada espere dos próximos
E retribua a generosidade
Dos estranhos do acaso
Jamais se habitue
Ao cuidado alheio
Nem se afeiçoe
A qualquer carícia
Esteja alerta
Não se perca em perdas
Nem lamente não ganhar
Seja seca e fria
Qual vento que fustiga
Crepite o fogo eterno
Em sua alma
Mas por fora areia
Do deserto noturno
Mutável como as dunas
A tragar o movimento
Traiçoeiro do mundo

Iriene Borges

Relato da Espera

Espero ansiosamente.
O cheiro de cigarro ao meu entorno!
Não o dissipa o vapor do banho quente.
Meu pensamento escorre espesso e morno

O cheiro de sebo da sua testa
A impregnar o travesseiro afasta o sono
E um odor leve de suor ainda resta
Nesses lençóis em que me abandono

Espera de eras, horas tristes
Acaricio melancólica as flores roxas
Que meticulosamente espalhastes
Entre o pescoço e a maciez das coxas

Esse desejo que persiste!
O sentir desmesurado e desconexo
Prurido de paixão ordinária, mas insiste
Em transcender a dimensão do sexo

E faz com que eu aceite,
Fúria contida em alegre alarde
Diluindo-se em irrefutável deleite
O que me dás, mesmo vindo tarde

E exige que me deite
Na rede fantasiosa que me aturde
E me dispa para que me enfeite
O véu de ilusões que teu feito urde

Iriene Borges