quinta-feira, 31 de dezembro de 2009


Foto: Iriene Borges

domingo, 15 de novembro de 2009




(Eu) Gênia Ariana



A fumaça cinzela meu vulto no vento
suspensa
trespassa-me a paralisia do sofrimento

para o cativo
serei augúrio da degradação
para o algoz da gloria


Desde que o primeiro homem
burlou a inconsciência
um rubor de chama e sangue
mancha minha memória.

Subverte-se a hierarquia
da criação
No encalço da perfeição
a perfídia devasta a terra

O espírito é banido da matéria
e os gênios buscam exílio
na desolação sidérea


Expatriada como a judia
enjeitada como cigana
choro

eu

Ariana


http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=3891757&tid=5378437564559297721&kw=primeira+guerra+mundial&na=1&nst=1

O Triste caso do esboço que ficou melhor do que pintura:

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Gavetas

Flerte III

Há algum tempo
que percorro em passos tímidos
a tua superfície

******

Frestas

Chuva vermelha

Não curto pessoas

O oposto do homem
magra e negra
anel no dedo mindinho
reflete meu estado de espírito
relógio grande, redondo, preto e metálico
cortina de sangue

Turbulência, dança frenética da vida

Um abraço como chocolate

Gato preto
bonecas fantasmagóricas
calça xadrez

Bad Pain

Amor Solitário

De bruços, dormindo sobre o túmulo do sonho

Botina bonita
chocolate amargo

Sou minha própria referência

Lábios cor de vinho
lábios sabor vinho
piercing

Rude e ingênua observação

Boa Dor

Anel no polegar

Hábito= tédio
melhor de trás pra frente

Sobreposição
música
rítmo
pés bonitos
cortina lilás

Eu, Feliz de não ser você

Odeio como me sinto
sobre pessoas solitárias
armários amarelos

Pratico
*************

Caniço Pensante

Eu quero esse visual, sombrio mas elegante
sem discernir o nada
do pouco que tenho

Me agradaria dizer
algo que tivesse real significado

Divido espaço com criaturas estranhas

Quero dormir
pra não ruminar
na gritante incapacidade de agir
*********

Flash

Um quase nada de remorso
testemunha teu anseio
pela rosa quase nuvem
sem contar que a colheita
desintegra o sonho
como açúcar na água
(sem o doce)

Desfeita ilusão
na fluidez da consciência

**********

A bem da verdade
não conheço a fome
só a acidez que me digere
desde as entranhas
até as bordas do macrocosmo

(Sei do desejo com tanto nome
na tepidez da carne
que gere o prato
ou mais um orgasmo)

************
Reciclado meu papel
esvoaçam dobraduras de silêncio

O não dito tem aderência e nervura
da nudez constrangedora
************

Na contemplação
embainho
a mágoa mais incisiva

***********
Descensor

Esparramo
Mais epiderme
Retém-me o atrito

A borda pode estar no próximo passo.
************

prognóstico

Não leio o futuro
um verso

desabrocha no rochedo.

Som
entre meus lábios
e a suspeição de arremedo

Iriene Borges

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Tarja Preta

Tua voz tange minha retina
indeferidos brados
ribombam no céu da boca


Sismo
catarses violetas
entredentes dissipo o eco
em beijos acres


A cidade alucina
Entre o crepúsculo brocado
E a sombra seda fosca


Cismo
tinjo as tarjas pretas
verde, champanhe, prosecco
delírio tinto em cristal ocre


O raso é sem fundo
quando desfraldas tuas velas
entre o inefável e o hostil

pelo vidro vejo o mundo
que desbota e amarela
sob teu olhar incivil.

Rosa Cardoso e Iriene Borges
Foto: Iriene Borges

domingo, 13 de setembro de 2009

(...)

Abro aspas para o silêncio que nasceu de nós

Aninhou-se em minha boca
semente de sonho no ventre seco da inércia

A verdade é so minha
embora os espelhos exijam retratação
e os estilhaços me singrem
expondo meu espólio
de cicatrizes invisíveis

Na lista de meus crimes deve constar
que matei a saudade

afogada

numa poça de ódio.


Iriene Borges

terça-feira, 8 de setembro de 2009




Foto: Iriene Borges

domingo, 30 de agosto de 2009

Delírio da tarde

Há sol lá fora e não quero ir
A saia me estrangula pela cintura
e a bota revelará o passo lerdo
pelo tornozelo esquerdo
Há um engasgo me esperando

Girassol, Náusea, Asfixia

Tenho sono e fastio dos modos humanos
e nenhum interesse na arte do improviso
Há serpentes e odaliscas ondulando sob o sol
Nunca soube distinguir os guizos
No sofá sob a colcha azul
sou a concha que verte o mar
nas almofadas

Não quero ir
Um palmo de luz pela janela já embriaga
e estou certa de que esfolarei a retina
nas asas finas de alguma fada amarela.

Iriene Borges

sábado, 22 de agosto de 2009


Foto: Iriene Borges

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Confissão

Hoje matei um irmão
Meu corpo travou-se gélido
Meu rosto tornou-se pálido
E dilacerado meu coração

Foi num momento de lucidez
Ele dava-me as costas
E esperanças decompostas
O afogaram na morbidez

Então desocupei seu lugar
O limpou um pranto breve
E senti minha alma tão leve
Que não evitei gostar

Assim, porque eu o amava
E ele nunca me amaria
E pela sua enorme covardia
Ele há muito me matava

Iriene Borges

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

foto: Iriene Borges

domingo, 19 de julho de 2009

Desintegração

Desintegração é a ordem
Posto-me nua à janela
sem causar alvoroço

Inexistência
emparedada no cimento
sem a propulsão da dor

A ficção das asas
abandonada na cadeira
entre outros destroços

E o vazio estanque
prestes a vazar
em algum clamor

Penso, esquecida
incrustrada na moldura
de uma vida nula

Sem esboçar vigor
ou traço de candura
que sustente um verso

Iriene Borges

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Foto: Iriene Borges

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Olhar para dentro

Eu também grito.
Dentro há um poço
escuro, aonde vejo
a minha face
e a perco no infinito.

Eu também blasfemo
de modo grosso
o feitiço malfazejo
sob cujo passe gemo.

Eu também imploro
a piedade alheia.
Ou de deus, em Cristo.
Sem esperar piedade.
Há fé.Basta. Eu oro.

Eu também perco o decoro.
A vida fede, é suja e feia
e a palavra exprime isto
em sua total atrocidade.
Eu sei. E faço. É desaforo

Eu também prometo
voltar atrás. Desejo
suscitado pela vergonha
dessa pobre reação
de explosão e ímpeto.

Mas há o meu rosto
esfacelado, e não vejo
algo que o recomponha
em totalidade e perfeição
sem pôr nele meu oposto.

E o oposto é a vida
Que fede, é suja e feia

Iriene Borges

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Leitura no Realejo Culinária Acústica, com os amigos do Póeteias
http://poeteias.blogspot.com

Súplica ao meu assassino

Cala-me suavemente.
Cessa o estertor violento
de minha verve lírica
em vísceras alheias,
vertendo, de tua boca lacerada,
o sumo que alimenta
o meu sentir intensamente.

Deita-me languidamente,
entre versos brancos
e a tessitura vaporosa
de silêncios enternecidos.
Acomoda em meus contornos
tua alma sinuosa

Deixa-me repousar
às margens da vertigem.
E antes que se dissipe
o êxtase de minhas veias,
e eu pereça lentamente
no torpor da tua ausência
mata-me

delicadamente.

Iriene Borges

domingo, 10 de maio de 2009

Danizinha
Foto: Iriene Borges

Acode-me a náusea

Abrupta transmutação
e quase me desperdiço
bálsamo sobre tua chaga

Nenhuma redenção emerge
do ímpeto que me traga

Rememoro teus pecados
num rosário de espinhos

e perfumes

Mas a lucidez agride
cada sonho que elaboro

Acode-me a náusea

Transeunte permeável
aos pruridos da miséria
cuja humanidade desvanece
num lapso
de profunda mortificação

eu passo


Iriene Borges

terça-feira, 21 de abril de 2009

Fênix

"Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento"
Vinicius de Moraes

Escureceu
E ainda assim procuro
a sombra das alamedas

Entre o ocaso e o soluço
murmuram todos os poetas
mas só ouço
o reverberar destes versos
"pensar nele é morrer de desventura
não pensar é matar meu pensamento"

Tenho unhas negras
de entalhar sonhos no carvão
Reminiscência e custo
de saber renascer da cinza

E ainda assim te emprestaria
meus olhos de fixar vertigens
e partilharia o mistério
que tranforma
uma sequência de palavras
na conjuração das asas
para transpor abismos

Iriene Borges

segunda-feira, 20 de abril de 2009

voyeur
Foto by Iriene Borges

domingo, 22 de março de 2009

Luz Vúnerável

Eu procuro palavras cheias de esplendor.
Que pareçam simples, mas grandiosas
e retratem em medidas cuidadosas
minha ambição e a miséria interior.

E que transmitam meu amor imperfeito
à arte e à beleza inesgotável da vida.
Através delas minha sensibilidade vertida
em cada coração como se no meu peito.

E digam que vejo tão longe e profundo.
E sinto tanto e tudo tão perto, e voraz,
desejo tudo que vejo e tudo temo demais.
No intento de acertar eu me confundo.

Assim, ouso tentar adestrar o intelecto
para esculpir uma imagem triunfante
sobre esta alma ingênua e petulante
Encobrindo a fragilidade que detecto.

Enquanto insuflo verbos de energia
aturde-me o gosto dúbio da verdade
e dilui-se tênue visão da liberdade
em minha própria alma escorregadia

Iriene Borges

Henri Cartier Bresson

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Trilha

Na ponta da esferográfica
sangro azul
e singro realidades abissais

A amplitude é claustrofóbica
se não passa pelo funil
do saber empírico

Burilo lembretes em letras graúdas
Migalhas de agora
que não permitem voltar atrás

mas de longe estrelas miúdas
alumiando-me na noite afora
do meu labirinto onírico

Iriene Borges
Foto: Iriene Borges

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Práticas antigas

Eu dançarei sobre teu túmulo
Paganismo inerte
Música que aprendi de ouvido
no pulsar envenenado
que me perverte
mas sustenta o fôlego

Desfarei no giro dos quadris
A mandinga e a modorra
que lançaste-me sobre a libido
Terei teu jazigo revolvido
e até o verme cuidarei que morra
sob coreografias febris

Ocorre que as hordas infernais
são palavras esmurrando minha porta
e as logro no encanto das cantigas
E entre ritos novos e práticas antigas
vislumbro-te carne exposta
nas manchetes dos jornais

Breve dançarei sobre teu túmulo

Iriene Borges
Descanso de papel
Grafite
Iriene Borges

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Alquimia

Adorno-me com falsas pepitas
que brilham no breu

Ardil que ante os espelhos
desvia-me de ver

Ouro de tolo sou eu
Julian Schnabell

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Riso Pálido


Técnica: gastura

talho de estilete
sob verniz


Iriene Borges
Egon Schiele

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Entardecer

Sobre a pele teu olhar arde
Claridade quente e serena
de sol no princípio da tarde

Abordagem obscena
Exploração covarde
da minha pele morena

Pele sequiosa
que arde
e cora

de uma timidez pequena

Iriene Borges
Morning sun
Edward Hopper

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Caligrafia da entrega

O olhar
se entrega ao objeto
Nele se exaure e extasia
como se fosse fantasia
o querer precipitado

E súbito se nega
olhando novamente
indiferente
raso
conciso
e calculado

O desejo existe
febril e impetuoso
ávido por prazer
na brutalidade da carne

Mas em mim
se dilui e transfigura
na linguagem crua
na superfície táctil
da palavra nua

Iriene Borges

Egon Schiele

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Enquanto houver amor em mim

Nada posso senão amar
Enquanto for romântico e vulgar
entretanto real o estampido
da bala de festim
cabe cair e morrer
sem sangrar
E fechada a cortina
levantar e sair
sem ver a platéia em catarse
a rir
do desempenho ridículo e sem par

Iriene Borges
egon Schiele

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Pesadelos Urbanos

Ela pendia da cadeira alaranjada, como uma flor vistosa num caule fino. Ora o corpo pendia para um lado, ora para o outro, no embalo dos vendavais que fustigavam seu sono. Era a terceira noite que dormia sentada no banco da Rodoviária de Curitiba. Durante treze anos seu corpo habituara-se a pouco conforto. Na infância dormira em colchão de palha, e passara frio nas noites de inverno, incapaz de puxar a coberta que aquecia as irmãs. Dormir sentada só não era mais torturante porque ela estava entorpecida de novidades e luzes. Boa escolha a rodoviária. Aberta vinte e quatro horas, iluminada, todos só de passagem. Mas aquela era a terceira noite, e a flor, sonolenta, faminta e aturdida, desabava sobre a cadeira alaranjada. Quando uma voz grave sussurrou em seu ouvido “ Você não gostaria de dormir numa cama quentinha?” ela sequer respondeu. Movida por uma vontade anterior ao raciocínio ergueu-se e seguiu a voz. Era uma bela voz, e soava tão distante, como se viesse de outras esferas, outra dimensão. Aquela voz era macia, como lençóis brancos e tolha felpuda, e quando ela soava, ao fundo ouvia-se uma orquestra de águas mornas. E vozes assim bonitas e confortantes só podem ser de anjos. Há treze anos esperava por um que a salvasse. E ele viera na hora de seu maior desespero e a guiava por uma estrada de taxis alaranjados e depois por uma trilha de luzes, na qual seguia leve como se fosse incorpórea.
Mas a trilha revelava-se sinuosa e sombria. E à medida que a luz empalidecia o torpor diminuía. Começou a sentir o movimento cadenciado das pernas e o esforço das pálpebras na luta contra o sono. O frio de março manifestou-se num arrepio permanente. Assustou-se ao perceber que não ouvia mais a voz macia e branca, morna e corrente. Caminhava em silêncio, e ao seu lado outros passos, mais duros e pesados do que os seus . Não olhou. Um alarme silencioso ressoou em seus ossos. “Que um anjo a guiasse pelo caminho mais estreito era plausível, mas esse era o mais escuro”.Agarrou-se na maravilhosa sensação que aquela voz despertara, e arrastada por ela seguiu até o fim da trilha. E sim, estava escrito hotel. Ainda havia uma esperançazinha, uma ínfima possibilidade, quando uma voz estridente pediu ao recepcionista um quarto. Pagamento adiantado, sem registro no livro. E quando uma chave foi posta sobre o balcão ela catou e no mesmo fôlego voou escada acima. Sentiu-se nos labirintos sensoriais de seus pesadelos quando um homem atravancou a porta antes que pudesse fechá-la. Ficou atônita com a rapidez que ele a alcançara. Não se deixou agarrar. Antes, abriu passagem. Ele percebeu seu medo, a porta entreaberta, e disse “ posso dormir nos seus pés?”. E foi então que ela o viu. Sim poderia dormir aos seus pés, atravessado na cama, pois era bem pequeno. E perceber isso amainou o medo. Segurou a chave com força, olhou a cama bem arrumada, inspirou o cheiro morno de mofo no cômodo, o cheiro de limpo e guardado entremeado nos lençóis e cobertas e ouviu uma sinfonia de águas mornas correndo em seu corpo. Num gesto inesperado jogou a chave sobre a cama e disse “ pode ficar com a cama inteira”. Voou escada abaixo no mesmo tom.
Voltou para a rodoviária tateando no escuro da memória. Súbito estava na Cadeira alaranjada novamente. Triste, como uma flor queimada pela geada. Engolindo o pensamento que a recriminava por não ter tido coragem de olhar nos olhos do homem que lhe tirara a inocência. Nunca reconstituiria a trilha de luzes. E sempre gostaria mais da penumbra.

Iriene Borges

sábado, 3 de janeiro de 2009

Cai o pano

Eu devia engolir a fala
do modo que engulo o choro
e o retenho com um nó na garganta
e outras linhas emaranhadas.

Mas a palavra me desata me destorce
faca afiada me destrincha expondo trapos
desfia o alinhavo
da figura adquirida em banca de retalhos
mostra-me em cada laivo a artesania
dos adereços de rebotalhos

A isso que sou
...................boneca de sonho
........................................títere do som

não cabe reter a palavra que resvala

Iriene Borges

Dance at Bougival

Pierre Auguste Renoir