André Ulle

Precipitação




Mesmo que chova como sempre quando faz noite em sua casa. E o céu gelado da tua sala me convide a cair de sono pela paz imposta no silêncio da nossa fé. Os quadros continuam fazendo menção as horas que nossos olhos precisam explorar horizontes mortos, pra manter o brilho que resta no mais intimo da nossa espera.



Esperamos um ao outro, com o mesmo tom de voz quase inaudível por entre nossos dias, sempre nublados, dizendo que não aguentamos. Certamente diríamos mais:



- Sempre houve cores em algum canto, mas esquecemos, esquecemos como as crianças esquecem seus tesouros entre as décadas, e depois passam a viver tentando lembrar, de algum canto, alguma lembrança empoeirada num lugar seguro fora do seu caminho. -



E se pudéssemos retomar numa direção contrária a essa que caminhamos por alto na nossa vista, e sentíssemos em nossos dedos, a textura de mil coisas que nos encardia de vida e sol. Talvez lembraríamos.



E em qualquer lugar, em qualquer estação, numa casa cheia de rastros, tão cheios da corrente de ar invadindo nossas paredes. Não nos esconderíamos da chuva.



André Ulle

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