domingo, 28 de setembro de 2008

Flerte

Sua fala
entremeada de sorrisos
exibe dentes delicados

Eu salivo
antecipando o sabor

Meu olhar come
você devagar,
lambendo o rosto
matizado
de cinza e rosa;
suga boca,
forma e textura

Nesse banquete
me aturde o prazer
que a língua goza

Vacilo
no gesticular constante
de suas mãos nodosas

E me deparo
com seu olho metálico,
liga de castanho e cobre,
que me procura
e foge

se me descobre.

Iriene Borges

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Foto: Iriene Borges

sábado, 20 de setembro de 2008

Mormaço

Pálpebra pesada
Da janela sonolenta
pende a fuligem preta

O castelo de nuvens
tornou-se borrão
na vista cinzenta

Mormacenta e embaçada,
atmosfera lúgubre
precede a tormenta

Opaca letargia
vai escorrer
da vidraça

Eu choro
sempre que preciso
de luzes

Iriene Borges

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Foto: Iriene Borges

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A voz

A voz é minha
E diz desencanto
Cantigas de não esperar
Angústia que se materializa
No plexo solar

É noite para toda carne


Iriene Borges

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Delírio

No pensamento a tua ausência é leve.
A tua ausência é lisa, tua ausência é rasa,
e desmancha-se no meu corpo em brasa
como inúmeros brancos flocos de neve.

Nos meus sentidos dados à minúcia
a tua ausência tem um peso de aura,
um porte de musa, uma doçura rara,
silêncio de prece, delirante fragrância.

E ela é tão suave, mesmo sendo constante
que às vezes em devaneio me surpreendo
dando atenção à idéia errante

de que existe um elo permanente.
E nem por força da vontade me desprendo
da sensação de que estás presente.

Iriene Borges
Rabiscos na agenda
Iriene Borges