Se você não responde às linguas que falo
calo a saudade
Não saiba na voz doce o desencanto decantado
Não saiba a fantasia de princesa
No seu baile malogrado
Calo em mim o rumor de flores eclodindo
e deito a pétala mal- me- quer
no vestido amarrotado
já embolado nas gavetas da memória
aos panos rotos de outros bailes
em que os buquês murcharam no meu seio
e mãos pendidas ao longo do desencontro
não me enlaçaram
Esse sorriso branco bem bordado
é trama nos tecidos tenros da menina
que ficou às margens do salão
com música alucinando sob o decoro
os acordes esgarçando as rendas do regaço
e pés febris tesos num sapato nunca usado
e a quem coube ir embora
ao primeiro tom da aurora
sem ter dançado
Iriene Borges
domingo, 28 de dezembro de 2008
O estalo
Açoites
e os manejas com a língua afoita
para sorver o gosto da vida que vaza
Mas não sangra a asa imaginária
Escalavra em seu ruflar a aurora das palavras
no breu que insistes erigir por minha casa
Iriene Borges
e os manejas com a língua afoita
para sorver o gosto da vida que vaza
Mas não sangra a asa imaginária
Escalavra em seu ruflar a aurora das palavras
no breu que insistes erigir por minha casa
Iriene Borges
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Descolor(ações)
Verso pouco as cores do arco-iris
Parei logo nos sorrisos amarelos
Não saberia ser menina cor de rosa
Naturais me eram versos brancos
brancas ardências dardejadas
em centelhas luminosas
Mas súbito meu âmago adormecido
explodiu em tons de lava e cinza
E eu versejo
porque o que já não viceja em mim
germina de novo no bojo da palavra
O véu brumoso de fuligem que enegrece
meu discernimento vítreo espelhado
é só a junção de todas as cores da paleta
Na tinta suja dos negrumes versados
subsistem minhas cores puras
em nuances desveladas à boa luz
Iriene Borges
Parei logo nos sorrisos amarelos
Não saberia ser menina cor de rosa
Naturais me eram versos brancos
brancas ardências dardejadas
em centelhas luminosas
Mas súbito meu âmago adormecido
explodiu em tons de lava e cinza
E eu versejo
porque o que já não viceja em mim
germina de novo no bojo da palavra
O véu brumoso de fuligem que enegrece
meu discernimento vítreo espelhado
é só a junção de todas as cores da paleta
Na tinta suja dos negrumes versados
subsistem minhas cores puras
em nuances desveladas à boa luz
Iriene Borges
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Beijos de pedra e nicotina
eu amo muito mais o amor,
portanto já traí minha promessa
não tenha pressa de saber
eu amo muito mais o amor
e outro olhar há de vestir
de mistério a nudez violada
por teu falo e tua fala
outra boca há de neutralizar
o verso ácido em minha saliva,
e espanar as cinzas dos teus beijos
de pedra e nicotina
Iriene Borges
portanto já traí minha promessa
não tenha pressa de saber
eu amo muito mais o amor
e outro olhar há de vestir
de mistério a nudez violada
por teu falo e tua fala
outra boca há de neutralizar
o verso ácido em minha saliva,
e espanar as cinzas dos teus beijos
de pedra e nicotina
Iriene Borges
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Pesadelo
É o medo falando!
Há sombra e caos
O ritmo é taquicardia
Há também, e acima disso
uma dor calada
encalacrada feito o mal
dissimulado na inevitável
desfaçatez humana
É o medo. E ele diz
que não há tempo,
embora o tempo me devore
E também diz que o desejo
é uma chama que se apaga
enquanto tomo fôlego
É só o medo. Só uma âncora
a sussurrar que sou apenas
um barquinho ordinário
Mas eu sonho que sou a água
Iriene Borges
Há sombra e caos
O ritmo é taquicardia
Há também, e acima disso
uma dor calada
encalacrada feito o mal
dissimulado na inevitável
desfaçatez humana
É o medo. E ele diz
que não há tempo,
embora o tempo me devore
E também diz que o desejo
é uma chama que se apaga
enquanto tomo fôlego
É só o medo. Só uma âncora
a sussurrar que sou apenas
um barquinho ordinário
Mas eu sonho que sou a água
Iriene Borges
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Sugestões
Eu estou tremendo
Um pouco de ira
Um pouco de medo
E muito de frio
Esse ódio ardendo
A náusea que revira
E em cada dedo
Uma garra que afio
Estou antevendo
A crepitar esta pira
Não mais em segredo
Não mais no bafio
E quando eu acabar
De parir esta dor
Hei de enforcá-la
No próprio cordão
E hei de despejar,
Sem qualquer pudor
Numa rasa vala
De qualquer chão
Não me surpreendo
Se geme e respira
Do fundo do poço
Um sonho vazio
Conquanto morrendo
Num fogo que inspira
Pergunto:
Quem foi a besta
Que acendeu o pavio?
Iriene Borges
Um pouco de ira
Um pouco de medo
E muito de frio
Esse ódio ardendo
A náusea que revira
E em cada dedo
Uma garra que afio
Estou antevendo
A crepitar esta pira
Não mais em segredo
Não mais no bafio
E quando eu acabar
De parir esta dor
Hei de enforcá-la
No próprio cordão
E hei de despejar,
Sem qualquer pudor
Numa rasa vala
De qualquer chão
Não me surpreendo
Se geme e respira
Do fundo do poço
Um sonho vazio
Conquanto morrendo
Num fogo que inspira
Pergunto:
Quem foi a besta
Que acendeu o pavio?
Iriene Borges
sábado, 6 de dezembro de 2008
Versos Desfiados
Perdoe-me se te desfaço
como quem puxa o fio
de tecido delicado.
Quando teci tua imagem
com a fibra do meu sonho
pensei tê-la eternizado.
Mas esse véu de insensatez
a encobrir meu discernimento
precisa ser desmanchado.
No esforço vão de sobreviver,
pesarosa, destruo a fina arte
do meu olhar apaixonado.
Iriene Borges
como quem puxa o fio
de tecido delicado.
Quando teci tua imagem
com a fibra do meu sonho
pensei tê-la eternizado.
Mas esse véu de insensatez
a encobrir meu discernimento
precisa ser desmanchado.
No esforço vão de sobreviver,
pesarosa, destruo a fina arte
do meu olhar apaixonado.
Iriene Borges
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