há quem destrua o que ama por não suportar perder-se, sem saber que na perdição cabe o encontro em se tratando de amor.
*
há quem pense que a selvageria é crueldade, e o selvagem é livre, quando a liberdade é uma crueldade para com a besta domesticada.
*
o (d)esperto não vê mais longe do que aquele que orbita a esfera dos sonhos
se não sabe ler a letra gorda que escorre dos olhos em linha clara, como poderia ler nas entrelinhas?!
*
a farpa finca-se mais fácil quanto mais fina e delicada
e a arrogância é mais mordaz em trajes de mendigo
*
o ápice é mais alto em negrumes versados e pulsões violetas do que em teus opiáceos
*
eu sou a água
*
tua existência materializa-se em estacas no meu coração desnecessário
*
desmaterializo em versos soltos os impropérios que devastaram meu domínio
*
separadas, minhas falas soam lâminas cegas
unidas, soam chôro no gume da palavra
*
é metálico e reflexivo o olho que vigia a cova rasa da tua pretensa profundidade
*
ora cego-te no reflexo da lâmina cega
ora cevo-te no fio da lâmina afiada
*
a paixão é um doce amargo que afina minhas normas
serei sempre carne exposta e alma nua
a paixão é um doce amargo que desatina minhas formas
*
vi suas fotografias, suas caligrafias espalhadas no sorriso.
você é bonita demais.
a beleza em si é um sofrimento.
a beleza em si é um abandono.
*
no semblante uma máscara cuspida com desgosto
há visco de escarro no sorriso posto
*
não impõe inércia a mágoa vergastada
nem o término é prerrogativa de teus precipícios.
ademais o fim é revogável na ficção que me criei
*
recito com orgulho que não sou boa
e de quando fui boa me arrependo
o travoso Remorso de existir!
*
seiva adocicada
vertida em recortes aveludados e perfume
aconchego nas dobras do veludo escuro
meu ego obtuso
*
a esperança que fere
me mantém acordada
*
a febre desmente a resignação
*
é meu bálsamo rasgar o verbo e larga-lo ao vento
*
ternas amarras nos gestos convulsos
vaga ameaça veda o revide
ainda me perco dentro do espelho
unho a superfície vítrea na agonia de arrancar
a expressão da minha face
caio nos sulcos semeados no meu rosto
o vazio ocupa tanto espaço
*
e a minha íris de mar aberto
outrora engoliu tuas mentiras
a tristeza de agora é sedimento
fundo irisado que mente preciosidade
e consente a limpidez da superfície
*
crueldade
já conheço seus meandros
ainda o espelho me estilhaça
a perplexidade lacera mais em lascas
álgidas ferroadas entretem a consciência
*
cuidado
substância inflamavél inerte
até a próxima faísca
antes das tesouras
eu arremessava os fios soltos
e tecias o encanto
*
a lágrima suspensa enforca o raciocínio
*
a janela fechada é um sorvedouro de sonhos
o fundo azul é abatedouro de minhas revoadas
*
a coreografia escarlate
esconde garras aparadas
sob esmalte
defaçatez
*
meus olhos espectadores camaleônicos
que não podem evitar cores diversas
transeuntes da urbe ensimesmada
andarilhos de orbes veladas
dejetos deitados à sarjeta
passageiros de dragões articulados
*
eu coleciono palavras
não essas que dizes
a cuja ressonância
segue o zunido da lâmina
e o frio na espinha
*
antes a marca cruzada dos dentes
e edemas que o tempo não absorvesse
*
abandono é uma palavra
às vezes adeus
às vezes entrega
*
inteira imperfeição
irrelevância que persevera
impertinência que reitera o erro
*
tem farpas de seda a mentira
Iriene Borges da Silva
*
há quem pense que a selvageria é crueldade, e o selvagem é livre, quando a liberdade é uma crueldade para com a besta domesticada.
*
o (d)esperto não vê mais longe do que aquele que orbita a esfera dos sonhos
se não sabe ler a letra gorda que escorre dos olhos em linha clara, como poderia ler nas entrelinhas?!
*
a farpa finca-se mais fácil quanto mais fina e delicada
e a arrogância é mais mordaz em trajes de mendigo
*
o ápice é mais alto em negrumes versados e pulsões violetas do que em teus opiáceos
*
eu sou a água
*
tua existência materializa-se em estacas no meu coração desnecessário
*
desmaterializo em versos soltos os impropérios que devastaram meu domínio
*
separadas, minhas falas soam lâminas cegas
unidas, soam chôro no gume da palavra
*
é metálico e reflexivo o olho que vigia a cova rasa da tua pretensa profundidade
*
ora cego-te no reflexo da lâmina cega
ora cevo-te no fio da lâmina afiada
*
a paixão é um doce amargo que afina minhas normas
serei sempre carne exposta e alma nua
a paixão é um doce amargo que desatina minhas formas
*
vi suas fotografias, suas caligrafias espalhadas no sorriso.
você é bonita demais.
a beleza em si é um sofrimento.
a beleza em si é um abandono.
*
no semblante uma máscara cuspida com desgosto
há visco de escarro no sorriso posto
*
não impõe inércia a mágoa vergastada
nem o término é prerrogativa de teus precipícios.
ademais o fim é revogável na ficção que me criei
*
recito com orgulho que não sou boa
e de quando fui boa me arrependo
o travoso Remorso de existir!
*
seiva adocicada
vertida em recortes aveludados e perfume
aconchego nas dobras do veludo escuro
meu ego obtuso
*
a esperança que fere
me mantém acordada
*
a febre desmente a resignação
*
é meu bálsamo rasgar o verbo e larga-lo ao vento
*
ternas amarras nos gestos convulsos
vaga ameaça veda o revide
ainda me perco dentro do espelho
unho a superfície vítrea na agonia de arrancar
a expressão da minha face
caio nos sulcos semeados no meu rosto
o vazio ocupa tanto espaço
*
e a minha íris de mar aberto
outrora engoliu tuas mentiras
a tristeza de agora é sedimento
fundo irisado que mente preciosidade
e consente a limpidez da superfície
*
crueldade
já conheço seus meandros
ainda o espelho me estilhaça
a perplexidade lacera mais em lascas
álgidas ferroadas entretem a consciência
*
cuidado
substância inflamavél inerte
até a próxima faísca
antes das tesouras
eu arremessava os fios soltos
e tecias o encanto
*
a lágrima suspensa enforca o raciocínio
*
a janela fechada é um sorvedouro de sonhos
o fundo azul é abatedouro de minhas revoadas
*
a coreografia escarlate
esconde garras aparadas
sob esmalte
defaçatez
*
meus olhos espectadores camaleônicos
que não podem evitar cores diversas
transeuntes da urbe ensimesmada
andarilhos de orbes veladas
dejetos deitados à sarjeta
passageiros de dragões articulados
*
eu coleciono palavras
não essas que dizes
a cuja ressonância
segue o zunido da lâmina
e o frio na espinha
*
antes a marca cruzada dos dentes
e edemas que o tempo não absorvesse
*
abandono é uma palavra
às vezes adeus
às vezes entrega
*
inteira imperfeição
irrelevância que persevera
impertinência que reitera o erro
*
tem farpas de seda a mentira
Iriene Borges da Silva