quinta-feira, 22 de abril de 2010

Eros e Tânatos



Náufrago em mim mesmo, a procuro
Entre suas pernas o afogamento
Esvazio aos arremessos
que a vida não se desprega num só rasgo,
não se desentranha na descarga
de um único orgasmo
Há sempre um último deleite a ser tragado


E ela sabe
Me recebe
Me insere na argúcia estrutural da prosa,
na poesia cadenciada dos encaixes
Adere dos ímpetos até os ossos,
seus feixes tecidos de névoa e mucosa
E eu apenas falo, falo e falo
até desaparecer


É quando ela se constringe
fecha ao meu redor e secreta
o silencio absoluto.
Mas finge
Sei de cor o repertório dos ardis
que enleia o embuste feminino
quando goza menos do que quis


Dissimulada desabrocha devagar, 
desarvora aflitivos perfumes,
entreabre o corolário dos possíveis
e impregnado dos ungüentos do ciúme
sou assaltado novamente
por tudo que ansiava abdicar
Resvalo para fora


Ela não chora
Ao afago oferta o calo, nunca o âmago
Cumpre ocultar o desamparo, me visto,
guardo o estilete no bolso
Retrátil acendo um cigarro, degusto,
e ainda tenho o pulso de ostentar a marra
de quem só tirou um sarro


Sem palavra avanço
ela é como as outras
quer tudo, e não me alcanço.




Iriene Borges

domingo, 18 de abril de 2010



Foto: Alfredo Goya

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quanto os Fantasmas confabulam



A cama sussurra que o conforto destoa

Quanto os fantasmas confabulam em duas horas de repouso?

Ouso os ossos no tapete
nas arestas de um frio
que recrudesce o outro
-o de fora mais tinge e menos magoa

Grudo a orelha gótica no porcelanato
Modulo o silêncio
no sintético obtido em fogo alto
E sedimento adormeço escuro basalto

Acordar?

É uma arte obtusa....
tilintar de cílios pétreos
trucidar de vista
depreciar águas-marinhas
em veios ametista


Iriene Borges

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vou embora agora
enquanto partir é opção
Quando pressinto o fim
já digo adeus a toda hora
e não suporto essa consumição.

Melhor o cessar repentino
como se eu não soubesse a que vim
nem me importasse meu destino.

Iriene Borges

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vinicius de Moraes by Jairo Alt