sábado, 26 de fevereiro de 2011

Adiamento

Eu espero o amanhã.
Hoje não. Hoje há medo
espreitando-me a alma
Hoje o trivial, a rotina.
Amanhã o extraordinário,
a vida que vale a pena.

Hoje a carne flácida
caída no lençol sujo
não merece a glória
da experiência plena
desse amor ideal
ou desse poder criador
dando-me asas
para alcançar a essência
do que é matéria inerte
e forma aparente.

Hoje não. Hoje o choro
contido como um segredo.
Pois essa vida medíocre,
é simples e previsível
mas também mete medo,
que é o medo do nada
além de dia após dia
viver um dia após outro
esvaindo-me aos poucos
numa resignada agonia.

Amanhã, amanhã quem sabe
eu seja diferente.
Hoje eu sou a minúscula
e insignificante partícula
da grande massa
na qual posso sumir
sem precisar pensar.
Na qual posso me esgotar
até o esquecimento
da liberdade de sonhar,
da maldição de querer
o que não posso me dar.

Hoje é melhor morrer
sem precisar me matar.
Morrer assim, calada
sufocada no buraco
do meu próprio não-ser
ouvindo-me respirar.


Iriene Borges

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Instantâneo




Há quem diga cisne
há quem diga borboleta
e há ainda quem aponte
a exuberância
prestes à implosão
e ávida por existir- ainda-
que há quem diga cinza
e há quem diga alma

Talvez eu conte da metáfora
que veste bem, e fascine
a carapuça delicada
do sujeito à gente errada
se aferir  privilégio maior
do que o engano
e a metamorfose  

Talvez desponte o fio
do escuro que seda
e eu não corra
só me enrole e durma
significando despertar
sem corpo mole ...amanhã.

Inconsistente
o meu papel medíocre
pede grafite macio
e adia tudo

Já perdi a hora e o prumo
em mensagens cifradas
sem demandar resposta
a minha melhor proposta
veio da última visagem
“escrever para a posteridade”

Mas ainda estudo.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

Miguel é uma mensagem



Será fim de trégua
maroto Querubim
aviltares outra vez
o teu Trono na poesia
suscetível ao incêndio
É implícita a cortesia
na aquiescência
às Dominações do silêncio

Uma mulher talvez despreze
talvez estraçalhe à unha
mas a minha alcunha
é uma Potência
que não se acomoda
em definições de Virtude
ou vício

Meu verso é um Principado
cuja soberania te concedo
Se não tens amor
deixa-o vago e branco
resguardado na saudade
que não se sabe

Aceita o arranjo que me cala
o que me custa
mas a vida não é justa
nem tem bula ou atenuante
Só poupa-me à ira
que macula este semblante
e apaga a lembrança
de ser teu Anjo

Iriene Borges

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mantra

Não adianta chacoalhar pelo pescoço
Idéia, resiliência, urdidura