sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O gosto da Saudade

Começa metálico na boca
Escorre corrosivo na garganta
E gorjeia em meu estômago
Pássaro flamejante
A revirar o meu avesso

Latejo em espasmos suspensos
Entre a fome e a náusea

O desalento já fez ninho
Em meus cabelos.

Iriene Borges


Rabiscos na agenda
Iriene Borges

domingo, 17 de agosto de 2008

Espólio

Meu coração pulsa moroso, ressentido.
Em vigília, a poesia dele se compadece
e terna o inspira enquanto ele tece
o verso, para ludibriar o gemido.

Iriene Borges

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Foto: Simone Ferreira

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Compulsão.

Essa raiva que você come,
sem modos,
nesse banquete
de sombras e medos,
não sacia,
apenas incita a imensa fome.

Na primeira lambida
é doce a vida.
Na segunda escapa o sabor à língua.
E a mordida principia
o desmanchar precoce
da alquímica receita de ilusão
na sua boca.

E você aperta entre dentes o ar,
a esmagar
qualquer indício de satisfação.


Iriene Borges

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Grafite
Iriene Borges

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Liberdade e Aflição

Onde está esse grito?
Em qual deserto de palavras?
Em qual oceano de pranto?
Estará, difuso em espasmos,
embalando um sonho morto?

Ou embargado pelo suspiro
aliviado da última esperança
fero, ata-me a garganta?
Onde está esse grito,
liberdade e aflição,
que eu evito?

O débil impulso
que ruma à garganta
mas desvia o curso
minuto após minuto

Onde está esse grito,
liberdade e aflição,
que eu evito?

Em qual abismo-
o de árido silêncio
ou de enfático cinismo-
abafo meu grito?

Sempre este rito
de hábil dissimulação
e prático comodismo
ata meu grito.

Impróprio e proscrito.
Dissipa-se na garganta.
Propaga-se no infinito!

Iriene Borges

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Acrílico sobre tela
Iriene Borges

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Crime Perfeito

O amor não te atinge
Empedernida esfinge
De enigmas insolúveis

Com palavras lacerantes
Esquartejas tuas amantes
No silêncio da madrugada

Iriene Borges

domingo, 27 de julho de 2008

Acrílico sobre tela
Iriene Borges

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Tempo
Foto: Luis Gustavo

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Aos poucos a luz recua e anoitece
A saudade é lua branca, lua cheia
Refletida em teus olhos a noite cresce
Refletida em mim a lua incendeia

Iriene Borges

terça-feira, 22 de julho de 2008



Foto: Iriene Borges

Sexto Soneto- O Perdão

Ouvistes falar poeta, da ira divina
A vingança eterna, o ódio inesgotável
Mitos, ecos da humanidade implacável
Divino é o amor, luz que se dissemina

A ira existe, mas dilui-se em tristeza
Fel que torna o mundo intragável
E como não bastasse é inevitável
Saudade, a ferir-me com delicadeza

Entenda poeta, a natureza dos versos
Não é atender a impulsos perversos
É extravasar-me até purgar a paixão

Por que apesar de teres me denegrido
Me abandonado após ter me ferido
O amor executa de imediato o perdão

Iriene Borges

domingo, 20 de julho de 2008

Quinto Soneto- A queda

Amaste-me com a mesma devoção
Que dirigias ao ídolo esculpido
Amaste-me, poeta, isso é sabido
Quando, feita carne, desci ao chão

Eu te amei em tensa intensidade
Entrega sem medida ou condição
Não me era vedada a satisfação
Pudores são valores, não verdade

Ah, ruim percepção da humanidade!
O amor puro que supus corresponder
Parecia-te mera luxúria e perversidade

Amaste-me poeta, na fria imobilidade
Porém o medo usastes para perverter
O que era ideal, e eu tornei realidade

Iriene Borges

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Quarto Soneto- A tua Deusa

Deusa, no mármore representada
Para enfeitar o vazio dos teus altares
Teus incensos rescendiam pelos ares
Tuas palavras me diziam ser amada

Meus pensamentos e os teus colidiam
Quando, poeta, declamavas a oração
Dentro da estátua pulsava um coração
Beijava-me os pés frios e eles sentiam

Um dia, nú e triste, subistes ao altar
Tua alma mostrou-se ali tão pura
E sem perceber comecei a te adorar

Era-me caro o teu contrito desnudar
Aos poucos insuflei vida na escultura
Eu, tua forma ideal, desci para te amar

Iriene Borges


Foto: Iriene Borges

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Engano

À boca o paladar prende teu gosto

O calor do teu contato dança na pele

Não há água que lave tuas marcas

Nem fogo que incinere teus vestígios

Da eteridade de minh`alma

A eternidade que te dei em pensamento

Talvez tenha feito indelével teus instantes

E errado a dimensão dos teus fragmentos

Iriene Borges

terça-feira, 15 de julho de 2008

A Primeira Resposta

Repito, sempre
E com tanto afinco,
que não me sabes.
E respondes que me vês
Mas bóia em teus olhos imagem
Não correspondente à minha nudez

Minh´alma inteira
Entregue toca a tua
que se dissipa à minha frente
como em um pesadelo
O mundo grita o desespero
que não revelo!


Te sigo.
Lúcida ao extremo
Perplexidade e vertigem


Estrela, relegada
ao percurso das madrugadas
Cobre-me um véu de neblina

Iriene Borges