domingo, 15 de novembro de 2009




(Eu) Gênia Ariana



A fumaça cinzela meu vulto no vento
suspensa
trespassa-me a paralisia do sofrimento

para o cativo
serei augúrio da degradação
para o algoz da gloria


Desde que o primeiro homem
burlou a inconsciência
um rubor de chama e sangue
mancha minha memória.

Subverte-se a hierarquia
da criação
No encalço da perfeição
a perfídia devasta a terra

O espírito é banido da matéria
e os gênios buscam exílio
na desolação sidérea


Expatriada como a judia
enjeitada como cigana
choro

eu

Ariana


http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=3891757&tid=5378437564559297721&kw=primeira+guerra+mundial&na=1&nst=1

O Triste caso do esboço que ficou melhor do que pintura:

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Gavetas

Flerte III

Há algum tempo
que percorro em passos tímidos
a tua superfície

******

Frestas

Chuva vermelha

Não curto pessoas

O oposto do homem
magra e negra
anel no dedo mindinho
reflete meu estado de espírito
relógio grande, redondo, preto e metálico
cortina de sangue

Turbulência, dança frenética da vida

Um abraço como chocolate

Gato preto
bonecas fantasmagóricas
calça xadrez

Bad Pain

Amor Solitário

De bruços, dormindo sobre o túmulo do sonho

Botina bonita
chocolate amargo

Sou minha própria referência

Lábios cor de vinho
lábios sabor vinho
piercing

Rude e ingênua observação

Boa Dor

Anel no polegar

Hábito= tédio
melhor de trás pra frente

Sobreposição
música
rítmo
pés bonitos
cortina lilás

Eu, Feliz de não ser você

Odeio como me sinto
sobre pessoas solitárias
armários amarelos

Pratico
*************

Caniço Pensante

Eu quero esse visual, sombrio mas elegante
sem discernir o nada
do pouco que tenho

Me agradaria dizer
algo que tivesse real significado

Divido espaço com criaturas estranhas

Quero dormir
pra não ruminar
na gritante incapacidade de agir
*********

Flash

Um quase nada de remorso
testemunha teu anseio
pela rosa quase nuvem
sem contar que a colheita
desintegra o sonho
como açúcar na água
(sem o doce)

Desfeita ilusão
na fluidez da consciência

**********

A bem da verdade
não conheço a fome
só a acidez que me digere
desde as entranhas
até as bordas do macrocosmo

(Sei do desejo com tanto nome
na tepidez da carne
que gere o prato
ou mais um orgasmo)

************
Reciclado meu papel
esvoaçam dobraduras de silêncio

O não dito tem aderência e nervura
da nudez constrangedora
************

Na contemplação
embainho
a mágoa mais incisiva

***********
Descensor

Esparramo
Mais epiderme
Retém-me o atrito

A borda pode estar no próximo passo.
************

prognóstico

Não leio o futuro
um verso

desabrocha no rochedo.

Som
entre meus lábios
e a suspeição de arremedo

Iriene Borges

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Tarja Preta

Tua voz tange minha retina
indeferidos brados
ribombam no céu da boca


Sismo
catarses violetas
entredentes dissipo o eco
em beijos acres


A cidade alucina
Entre o crepúsculo brocado
E a sombra seda fosca


Cismo
tinjo as tarjas pretas
verde, champanhe, prosecco
delírio tinto em cristal ocre


O raso é sem fundo
quando desfraldas tuas velas
entre o inefável e o hostil

pelo vidro vejo o mundo
que desbota e amarela
sob teu olhar incivil.

Rosa Cardoso e Iriene Borges
Foto: Iriene Borges

domingo, 13 de setembro de 2009

(...)

Abro aspas para o silêncio que nasceu de nós

Aninhou-se em minha boca
semente de sonho no ventre seco da inércia

A verdade é so minha
embora os espelhos exijam retratação
e os estilhaços me singrem
expondo meu espólio
de cicatrizes invisíveis

Na lista de meus crimes deve constar
que matei a saudade

afogada

numa poça de ódio.


Iriene Borges

terça-feira, 8 de setembro de 2009




Foto: Iriene Borges

domingo, 30 de agosto de 2009

Delírio da tarde

Há sol lá fora e não quero ir
A saia me estrangula pela cintura
e a bota revelará o passo lerdo
pelo tornozelo esquerdo
Há um engasgo me esperando

Girassol, Náusea, Asfixia

Tenho sono e fastio dos modos humanos
e nenhum interesse na arte do improviso
Há serpentes e odaliscas ondulando sob o sol
Nunca soube distinguir os guizos
No sofá sob a colcha azul
sou a concha que verte o mar
nas almofadas

Não quero ir
Um palmo de luz pela janela já embriaga
e estou certa de que esfolarei a retina
nas asas finas de alguma fada amarela.

Iriene Borges

sábado, 22 de agosto de 2009


Foto: Iriene Borges

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Confissão

Hoje matei um irmão
Meu corpo travou-se gélido
Meu rosto tornou-se pálido
E dilacerado meu coração

Foi num momento de lucidez
Ele dava-me as costas
E esperanças decompostas
O afogaram na morbidez

Então desocupei seu lugar
O limpou um pranto breve
E senti minha alma tão leve
Que não evitei gostar

Assim, porque eu o amava
E ele nunca me amaria
E pela sua enorme covardia
Ele há muito me matava

Iriene Borges

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

foto: Iriene Borges

domingo, 19 de julho de 2009

Desintegração

Desintegração é a ordem
Posto-me nua à janela
sem causar alvoroço

Inexistência
emparedada no cimento
sem a propulsão da dor

A ficção das asas
abandonada na cadeira
entre outros destroços

E o vazio estanque
prestes a vazar
em algum clamor

Penso, esquecida
incrustrada na moldura
de uma vida nula

Sem esboçar vigor
ou traço de candura
que sustente um verso

Iriene Borges

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Foto: Iriene Borges

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Olhar para dentro

Eu também grito.
Dentro há um poço
escuro, aonde vejo
a minha face
e a perco no infinito.

Eu também blasfemo
de modo grosso
o feitiço malfazejo
sob cujo passe gemo.

Eu também imploro
a piedade alheia.
Ou de deus, em Cristo.
Sem esperar piedade.
Há fé.Basta. Eu oro.

Eu também perco o decoro.
A vida fede, é suja e feia
e a palavra exprime isto
em sua total atrocidade.
Eu sei. E faço. É desaforo

Eu também prometo
voltar atrás. Desejo
suscitado pela vergonha
dessa pobre reação
de explosão e ímpeto.

Mas há o meu rosto
esfacelado, e não vejo
algo que o recomponha
em totalidade e perfeição
sem pôr nele meu oposto.

E o oposto é a vida
Que fede, é suja e feia

Iriene Borges

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Leitura no Realejo Culinária Acústica, com os amigos do Póeteias
http://poeteias.blogspot.com

Súplica ao meu assassino

Cala-me suavemente.
Cessa o estertor violento
de minha verve lírica
em vísceras alheias,
vertendo, de tua boca lacerada,
o sumo que alimenta
o meu sentir intensamente.

Deita-me languidamente,
entre versos brancos
e a tessitura vaporosa
de silêncios enternecidos.
Acomoda em meus contornos
tua alma sinuosa

Deixa-me repousar
às margens da vertigem.
E antes que se dissipe
o êxtase de minhas veias,
e eu pereça lentamente
no torpor da tua ausência
mata-me

delicadamente.

Iriene Borges

domingo, 10 de maio de 2009

Danizinha
Foto: Iriene Borges

Acode-me a náusea

Abrupta transmutação
e quase me desperdiço
bálsamo sobre tua chaga

Nenhuma redenção emerge
do ímpeto que me traga

Rememoro teus pecados
num rosário de espinhos

e perfumes

Mas a lucidez agride
cada sonho que elaboro

Acode-me a náusea

Transeunte permeável
aos pruridos da miséria
cuja humanidade desvanece
num lapso
de profunda mortificação

eu passo


Iriene Borges

terça-feira, 21 de abril de 2009

Fênix

"Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento"
Vinicius de Moraes

Escureceu
E ainda assim procuro
a sombra das alamedas

Entre o ocaso e o soluço
murmuram todos os poetas
mas só ouço
o reverberar destes versos
"pensar nele é morrer de desventura
não pensar é matar meu pensamento"

Tenho unhas negras
de entalhar sonhos no carvão
Reminiscência e custo
de saber renascer da cinza

E ainda assim te emprestaria
meus olhos de fixar vertigens
e partilharia o mistério
que tranforma
uma sequência de palavras
na conjuração das asas
para transpor abismos

Iriene Borges